Ao final dos trabalhos do Legislativo em 2019 e com a aprovação de um pacote de projetos desgastantes, o presidente da Assembleia, Lissauer Vieira (PSB), diz que é preciso ter “coragem” para enfrentar os problemas financeiros do Estado e considera que houve muitos “avanços” com as matérias que passaram pela Casa. O presidente também diz que o ano termina com uma excelente relação com o Executivo e que 2020 será de maior tranquilidade para os dois Poderes. “Talvez nunca na história de Goiás tivemos um Executivo tão alinhado com o Legislativo em prol de melhorar a condição financeira do Estado”, afirma.Em entrevista ao POPULAR, Lissauer falou também do excesso de emendas jabutis (alterações em projetos com inclusões que não tratam do mesmo tema para agilizar a tramitação), sua reeleição, de gastos com pessoal e das obras da sede. Qual balanço faz deste primeiro ano de trabalhos desta legislatura?Um ano de muita dificuldade. Um ano de ajustes para o Estado, um novo governo, um novo método de trabalho, um novo modelo de gestão. Tivemos no começo alguns meses de mais dificuldades, até mesmo pela minha eleição em fevereiro, que não foi a gosto do governador. Isso ocorreu até haver um entendimento do Legislativo com o Executivo, apesar de sempre termos trabalhado com muito respeito e harmonia entre os Poderes. Eu vejo que a Assembleia conseguiu a sua autonomia e sua independência. Não significa que com isso vamos radicalizar. Não é isso que a gente quer e não é meu perfil de trabalho. Meu perfil é ter minha posição, mostrar que o Legislativo é autônomo e tem de ser respeitado. E o Executivo, não apenas o governador, mas todos entenderam isso. Hoje temos um relacionamento extremamente respeitoso, produtivo, até mesmo para Goiás. As votações nesta reta final reforçam essa boa relação.O objetivo do Poder Legislativo e o meu objetivo é, na medida do possível, dentro das nossas prerrogativas, ajudar o governo a reconstruir Goiás, a recuperar o Estado, com responsabilidade e com seriedade com que conduz as ações. O governo, por tudo que aconteceu desde fevereiro, teve avanços demais. Talvez nunca na história de Goiás tivemos um Executivo tão alinhado com o Legislativo em prol de melhorar a condição financeira do Estado. O governo anterior tentou extinguir quinquênios e não conseguiu. E tantos tentaram outras medidas e não conseguiram. Os avanços foram notórios. Houve a união dos Poderes para beneficiar o Estado. Mas há também muitos desgastes com o funcionalismo.Nem eu nem o governador e nenhum deputado queria votar matérias polêmicas e pesadas como essas. Talvez na história da Assembleia nunca tenha havido tantos pacotes de uma vez só duros como os que votamos nas últimas semanas. O deputado Álvaro (Guimarães, DEM) comentou isso, que em sete mandatos, nunca tinha visto. Nós aguentamos firmes. Isso demonstra que temos responsabilidade e lealdade ao governo. Infelizmente são medidas duras, mas necessárias. A Previdência é deficitária. O governo federal já aprovou (Reforma da Previdência) e vários Estados seguem o mesmo caminho. Existe uma reforma administrativa proposta pelo governo federal. Essas reformas são inevitáveis. Se não tivermos a coragem de fazer, podemos chegar à situação do Rio de Janeiro, que não paga servidor, não tem saúde e não tem políticas públicas para a população. Algum ajuste tem de ser feito. Infelizmente caiu na nossa mão. O momento é este. Se caiu na nossa mão, temos de ter coragem de enfrentar de cabeça erguida para garantir um futuro melhor para todos os cidadãos de Goiás. Não é possível que um Estado do tamanho de Goiás, com a força econômica e o potencial de crescimento econômico de Goiás, gaste 87% da arrecadação vá somente para folha de pessoal. Onde ficam as políticas públicas? Rodovias, segurança, saúde. E qual foi a responsabilidade do Legislativo para que chegássemos a esse ponto? Benefícios ao funcionalismo foram aprovados pela Assembleia, e muitos na gestão anterior.Em outros momentos. Quem tem a gestão é o governador. A Assembleia não tem como entrar lá e saber o que está acontecendo. E a gente sabe que os outros governos vendiam um Estado maravilhoso, a vida toda. Principalmente quando chegava perto da eleição. O Estado estava lindo, maravilhoso, ajustado, não tinha dívida, não tinha problemas. O Ronaldo pode ter um sistema mais bruto de trabalhar, aquele jeitão dele, ser mais direto, mas uma coisa que ele demonstra é transparência. Ele está falando a verdade. E a situação do Estado não é boa. E vai demorar para recuperar. Há entendimentos de que Legislativo e Judiciário ficaram de fora do novo Estatuto do Servidor. O sr. vai fazer alguma mudança para que haja paridade?Eu não sabia, fui pego de surpresa pela exclusão dos poderes. Eu não parei para pensar ainda. Mas pretendo discutir isso com o Judiciário e com o Ministério Público. Não vou fazer sozinho. Se for entendimento de todos, faremos uma reforma do estatuto para os servidores dos outros poderes. Eu não acho justo criar a diferença. Eu falei isso para alguns servidores da Assembleia. Vamos tirar (quinquênios e licença-prêmio) dos servidores da educação, da saúde, de todo o pessoal do Executivo, e deixar aqui? Não são mais bonitos que eles. Mas não posso tomar atitudes por conta própria, ainda mais em meio àquele turbilhão de coisas. Acho que agora com calma, com equilíbrio, e dentro de um diálogo, vamos discutir. E conversei com vários deputados e nenhum achou justo. Foi um ano marcado por diversas emendas jabutis. Isso não é negativo para o Legislativo?Quando não foi assim? Sempre teve muito, mas este ano a quantidade foi maior.Eu realmente acho que faltou, por ser o primeiro ano do governo, um planejamento. O exemplo mais claro disso: a PEC da Educação. Ela começou a ser discutida em maio. E houve esse vaivém por todos esses meses. Por que não planejar e mandar uma PEC original? Houve muito atropelo. Acho que também por conta da condução da Assembleia com o governo, demorou para encaixar e eles tinham muito pé atrás com a minha condução, achando que eu queria atrapalhar em tudo, e eu nunca tive essa intenção. Ficavam com medo de ter barreiras e tentaram fazer tudo no atropelo. Isso provocou muito problema para o próprio governo. Acho que agora que a poeira baixou, temos um novo ano, haverá condições de planejar. Em 2020 então não teremos tantos jabutis?Não. Há condição de planejar. Eu falei para a cúpula do governo que a Assembleia tem condição de ajudar, tratando das pautas prévias que o Executivo planeja, podemos participar e ajudar. Acho que os erros que aconteceram, e foram muitos, tendem a ser corrigidos. E a gente pode contribuir.