“Irredutíveis” e “definitivas” foram as palavras usadas ontem pelo prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), para anunciar as decisões de não ser candidato à reeleição neste ano e de encerrar sua vida pública em 1º de janeiro de 2021, quando fará a transmissão do cargo de prefeito a quem for eleito na eleição de novembro deste ano.O anúncio inicialmente estava marcado para o Paço Municipal, mas acabou ocorrendo em um hotel da capital, após o POPULAR mostrar que a legislação eleitoral veda uso de bens públicos para comunicados do tipo e que isso poderia gerar processo de improbidade administrativa.O discurso de Iris durou 23 minutos e foi dividido em duas partes. A primeira começou com um ato de solidariedade às famílias que perderam pessoas pela Covid-19. Depois ele resumiu as ações da Prefeitura frente à pandemia de Covid-19 e falou sobre as dificuldades enfrentadas, por exemplo, a queda de arrecadação de aproximadamente R$ 623 milhões neste ano devido ao fechamento do comércio por mais de três meses.A segunda parte do discurso tratou da candidatura. Iris iniciou dizendo que seu nome é novamente cotado à disputa e que se sentiu “extremamente sensibilizado” com as “inúmeras manifestações de apoio” para que ele tentasse um quinto mandato.Contudo, ressaltou que estava ali para comunicar que não será candidato. “Cumpre-me, também, informar que encerro, neste momento, a minha carreira política construída ao longo de mais de seis décadas”, disse. Iris completa 62 anos de vida pública neste ano – para seu primeiro cargo público, foi eleito vereador de Goiânia em 1959. No discurso, disse ainda que decidiu fazer o anúncio “com antecedência para que aqueles que pretendem se candidatar” à sua sucessão possam se colocar na disputa. Entretanto, o prefeito não falou nenhum nome, mesmo que o principal cotado da sigla para a disputa estivesse sentado à mesa atrás dele: o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela, que saiu sem falar com a imprensa e tem evitado comentar o tema (leia mais na página 5).O comportamento condiz com o que Iris comentou com seus aliados desde a semana passada: de que não tem intenção de participar da campanha, mesmo que para apoiar um nome de seu partido. Apesar disso, a expectativa do MDB é de que ele tenha alguma participação, por exemplo, no horário eleitoral.ANTECEDENTEsO prefeito foi para o hotel depois de reunião com 24 vereadores, que foram ao Paço justamente pedir que ele revisse a decisão de não disputar a reeleição. Iris se emocionou diante das falas, mas apresentou irredutibilidade de pensamento. Ana Paula, filha do prefeito, também falou no encontro e disse que a decisão de encerrar a vida pública era de Iris e não da família.A escolha de palavras de Iris tem a ver com o fato de que ele já anunciou aposentadoria da carreira política outras duas vezes e sempre recuou diante de pedidos de aliados.O primeiro anúncio ocorreu em 2014, quando passou toda a campanha ao governo estadual dizendo que aquela seria sua última disputa e, após o resultado do pleito, vencido por Marconi Perillo (PSDB), Iris divulgou uma carta ao povo goiano afirmando: “Disse ao longo da campanha que esta seria minha última candidatura. Não sou mais candidato, mas serei militante do meu partido até o dia em que Deus me chamar desta vida”.O segundo comunicado foi feito em 2016, novamente via carta ao povo goiano, na qual afirmava ter refletido e que “realmente” devia finalizar sua “caminhada política”. “Encerro, portanto, minha trajetória como homem público com a consciência tranquila e o coração em paz. Procurei retribuir como político e ser humano a tudo que essa cidade e esse Estado me proporcionaram”, dizia o texto.Um mês depois, porém, Iris recuou diante dos “anseios do povo”. No discurso de ontem, ele inclusive comentou os episódios: “Devo ainda ponderar que, em 2014, após anúncio de encerramento de minha carreira política, tive que reconsiderar a decisão dois anos depois em face de circunstância muito especial. Goiânia encontrava-se à beira do precipício, com danosas consequências para a vida dos moradores e dos servidores públicos”.O prefeito ressaltou carregar “um sentimento de culpa por ter renunciado em 2010, com apenas um ano e dois meses no terceiro mandato, com o propósito de disputar o Governo do Estado”. “Para me redimir perante a sociedade e consertar uma situação que eu próprio havia criado fomos à disputa em 2016.”Curiosamente, a carta de Iris em 2016 e o discurso dele ontem terminam exatamente da mesma forma, ao citar uma fala do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.