Além de um freio de arrumação na relação entre os Poderes e um chacoalhão na divisão insana da sociedade, a tragédia no Rio Grande do Sul alivia a pressão sobre o governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por equilíbrio fiscal. Agora, Haddad está livre, leve e solto para gastar, como o presidente Lula sempre gostou. Lula uniu a obrigação de agir com um cálculo político. Provocou uma comparação positiva para ele com o antecessor, ao ir já no dia seguinte para o Estado, enquanto Jair Bolsonaro se esbaldou de jet-ski em Santa Catarina durante inundações na Bahia. E evitou uma comparação negativa com a liberação de montanhas de verbas emergenciais na pandemia de covid-19. As chuvas, mortes e consequências drásticas nas empresas, serviços e na fundamental produção agrícola do Estado mudaram a pauta do País: sai a divisão entre os setores privados gritando por ajuste fiscal e o setor público, com Lula à frente, fazendo campanha por gastos; entra a responsabilidade - que não é apenas fiscal.