“‘Dê a ele o nosso cartão de visitas’ – e deram-me um violento pontapé nos órgãos genitais que me fez perder a consciência. Despertei sob violentíssimos pontapés. A seguir puseram-me de pé, enforcaram-me várias vezes, deram dezenas de murros sobre meu estômago ulcerado e aplicaram-me o ‘suplício do telefone’, que consta de violentos tapas nos dois ouvidos ao mesmo tempo com as mãos espalmadas para romper os tímpanos. (...) Os espancamentos se sucederam. (...) Aplicaram-me choque elétrico nas partes sensíveis do corpo. (...) E eu pedi que trouxessem até a pena de morte de minha mãe que eu assinaria”. Esse relato saiu do punho da própria vítima, o advogado João Batista Zacariotti, em carta encaminhada ao governador afastado Mauro Borges, em dezembro de 1964. Zacariotti havia sido preso quando era subchefe do Gabinete Civil do governo de Goiás, e encaminhado ao 10º Batalhão de Caçadores (10º BC), unidade do Exército em Goiânia, sob o comando do coronel Danilo Darcy de Sá Cunha e Mello. O coronel queria que ele confessasse que Mauro escondia caminhões de armas e munições e que recebia apoio e dinheiro de países comunistas para fazer a contrarrevolução no Brasil.