O secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, assinou nesta segunda-feira (8) pedido de férias de 15 dias para que sejam apuradas as acusações feitas por Jorge Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado (DEM), contra ele. A assessoria de comunicação do governador anunciou que Rodney pediu afastamento, mas são férias. Ainda nesta manhã ele vai depor à Polícia Civil no inquérito que investiga detalhes do áudio de Jorge Caiado divulgado na quinta-feira.Caiado esteve na sede da SSP na manhã de hoje para conversar com o secretário. Rodney diz que quer "ir a fundo e o mais rápido possível" nas investigações para que seja esclarecido o caso. "Avisei ao governador que iria lançar um desafio na imprensa para que Jorge Caiado apresente provas no inquérito. Eu o desafio a apresentar provas", diz. Segundo ele, o pedido de férias é para não deixar dúvidas sobre interferências nas investigações. O secretário disse que pensou em deixar o cargo, mas que conta com a confiança do governador e que não vê motivos para saída, já que "não tem culpa". Ele afirma ainda não ter dúvidas de que a investigação será concluída em até 15 dias. "Se não há nenhum fundamento, a apuração será rápida. Posso até voltar antes."Em áudio enviado a Rodney, Jorge Caiado o acusa de grampear seu telefone e de "pegar" R$ 1 milhão do Corpo de Bombeiros, sugerindo desvio de recursos públicos. Na sexta, Rodney anunciou a instauração de dois inquéritos na Polícia Civil, um para apurar as acusações e outro para investigar o vazamento do áudio. No sábado, em reunião com o governador, foi acertado o afastamento do secretário. O secretário concedeu entrevista sobre o caso ao blog. Veja principais trechos:O senhor conversou no sábado com o governador. Pediu para sair ou ele pediu?Nenhum dos dois. Eu já havia falado com o governador sobre esse áudio de Jorge Caiado quando eu o recebi. Falei que as agressões eram sem fundamento e que pediria apuração. Ele me respaldou e disse que resolveria a questão. Conversamos no sábado, depois do vazamento do áudio, e ele reafirmou a confiança na minha idoneidade e disse que me deixava à vontade para decidir, para fazer o que achasse melhor.E decidiu pedir férias?O governador veio hoje à secretaria e falou novamente da confiança. Pensei, refleti, e decidi pedir férias para não deixar nenhuma lâmina de suspeita sobre interferência minha nos inquéritos. E requeri o acompanhamento da Controladoria Geral do Estado e do Ministério Público. Quero ir a fundo e o mais rápido possível nessa apuração para esclarecer essa covardia que estão fazendo comigo. Não tem nenhum fundamento, nenhuma condição... Eu nem sei falar disso sem falar um palavrão. Avisei ao governador que iria lançar um desafio na imprensa para que Jorge Caiado apresente provas no inquérito. Eu o desafio a apresentar provas.Depois da reunião de sábado com o governador, o sr. não reuniu a cúpula da SSP e avisou que sairia?Eu pensei em sair. E minha obrigação como líder era de pontuar a conversa. Mas a reunião foi para pedir para todos esfriarem a cabeça. Tínhamos uma operação importante no dia seguinte, das manifestações de domingo. Um ou outro interpretou errado. Mas não falei que ia sair. Queria passar tranquilidade diante de alguns aproveitadores que já queriam ocupar a SSP. Quinze dias serão suficientes para o esclarecimento do caso?Não tenho dúvida nenhuma. Se não há nenhum fundamento, a apuração vai ser rápida. A única dificuldade que pode ocorrer é de localização do senhor Jorge Caiado. Sexta foram (a Polícia Civil) à casa dele e não o encontraram. Ele até deveria ser ouvido antes de mim, mas não o acharam. Então eu pedi para ser ouvido hoje para ficar com a minha família nessas férias. Estamos sofrendo muito. Nas redes sociais, as coisas são bem pesadas, inclusive em postagens de pessoas de outros Estados onde atuei. Estou juntando essas postagens e vou conversar com meu advogado. Quando for provado que sou totalmente sem culpa, vou mover ação de indenização contra todos os detratores. Quando o sr. recebeu o áudio do Jorge Caiado, qual foi sua reação?Eu fiquei bastante aborrecido, irritado. Minha primeira reação foi querer ligar pra ele, pedir para esclarecermos pessoalmente, num tête-à-tête. Minha esposa me acalmou, disse que não valia a pena, que não seria bom para nós. Então eu fiz um texto para ele negando, dizendo que eram mentiras e que não brigaria com ele. Esse texto está no inquérito. Eu sei que isso não saiu da cabeça dele. Terminei dizendo que não tenho medo da verdade. Aí mandei o áudio e a resposta ao governador, que me chamou lá para conversar. Eu levei o Alexandre Lourenço (superintendente de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado, que agora assume interinamente o comando da SSP) e o Odair (José Soares, delegado-geral da Polícia Civil) porque havia informação de grampo e corrupção. Eles explicaram as investigações em curso atualmente, claro, sem afetar o sigilo. E falei que tenho tranquilidade.O sr. acha que essa história toda partiu de pessoas insatisfeitas com essas investigações da Polícia Civil?Não tenho dúvida nenhuma. Há muitos insatisfeitos e as investigações vão chegar a eles, não tenho dúvida. Elas vão seguir.O governador vai respaldá-las mesmo atingindo gente do grupo político dele?Também não tenho dúvida nenhuma. Até aqui, mesmo quando houve investigações que chegaram a pessoas conhecidas dele, o governador nunca pediu nada ao contrário do que devemos fazer seguindo a lei. Se eu não soubesse disso, já teria ido embora.O que é este R$ 1 milhão do Corpo de Bombeiros citado no áudio? Houve alguma liberação de recurso, obra, algum investimento deste valor na corporação?Procura o Jorge Caiado. Não tenho ideia do que seja. Não tenho a mínima ideia de onde ele tirou isso.Acha que a cúpula do governo pode ter incentivado o vazamento do áudio?Sobre o governador, tenho certeza que não participa disso. Do contrário, ele me pediria o cargo, já que é uma pasta estratégica do governo. Ele demonstra confiança. Não há sombra de desconfiança. Não teria sentido. Se o governador desconfiasse de mim, teria pedido o cargo. Ou confia ou não confia. Mas eu disse a ele que se houver algo no inquérito que faça gerar desconfiança, que não terei problema em sair. Mas não tem.O governo divulgou que o sr. pediu afastamento, mas são apenas férias. Erraram. O governador acabou de sair daqui e falamos das minhas férias. Quem publicou, errou.Jorge Caiado é ou foi alvo de alguma investigação?Não. Não é e não foi. Não existe nada disso de grampo.Qual é a influência de Jorge Caiado na SSP? Ele indica nomes para cargos? Ele tem equipe de segurança, escolta da PM? Participa do governo?Na SSP, ele tem amigos, mas sem poder decisório algum. Se tem escolta, eu não sei. Acho que não. Eu até tinha boa relação com ele. E quero deixar claro que não duvido da idoneidade dele. Só que ele foi extremamente covarde neste caso. Agora, o que disseram a ele e por que explodiu assim eu não sei. E não quero saber. Não quero conversa. Agora só quero as apurações e esclarecimentos.Acha que não haverá desgastes para voltar à secretaria daqui a 15 dias?Por quê? Aí eu te pergunto: por que haveria? Se eu tivesse qualquer dúvida sobre minha correção e idoneidade, tudo bem. Mas não há. Tanto que estou preparando ações de reparação contra os detratores. Não tenho dificuldades de continuar. E não tenho dificuldades de sair se apontarem qualquer prova. Não haverá. E posso até voltar antes. Até porque passar 15 dias de férias em casa, sem poder viajar por conta da pandemia, é cruel. Vou incluir tudo isso nos pedidos de reparação (risos).****E-mail: fabiana.pulcineli@opopular.com.brTwitter: @fpulcineliFacebook: fabiana.pulcineliInstagram: @fpulcineli