-Imagem (1.2001868)Câncer. O diagnóstico, em meados de 2018, alterou toda a percepção de vida da professora universitária e escritora Simone Antoniaci Tuzzo. Tudo começou com algumas aftas na boca, tratadas de forma caseira, até que ela notou um caroço na borda da língua. “Assustada, fui à urgência médica e assim descobri um tumor maligno”, conta Simone, que decidiu registrar no livro O Sabor da Jaca todas as etapas da luta contra a doença. O lançamento da obra, que tem lucro revertido ao Grupo Carinho Contagiante, voluntários que atuam em hospitais de Goiânia com ênfase para pacientes em tratamento contra a doença, será no sábado, às 17 horas, no Mr. Black Café Gourmet, do Passeio das Águas Shopping. Em entrevista ao POPULAR, Simone conta os motivos que a fizeram escrever sobre o câncer, uma doença cercada de tabus e cujo nome há quem tenha medo até de pronunciar.Como o diagnóstico de câncer alterou sua percepção da vida?O futuro chega, e o que se pensava para a velhice passa a ser a prioridade. A casa dos sonhos, a viagem aos lugares desconhecidos, a forma de vida, a vontade de fazer tudo aquilo que ainda não foi possível e que é constantemente adiado para quando a velhice chegar. A vida passa a ser hoje.A senhora já tinha tido alguma experiência com a doença?Acompanhei alguns casos próximos, como o meu pai, que faleceu vítima do câncer no estômago, e minha cunhada, vítima de leucemia. Isso ajuda a perceber que é uma doença que pode acometer qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer condição física. Alguns se encaixam nos quadros de risco, outros, não. Eu nunca fumei ou bebi além de uma taça em um evento social, mas fui vítima de um câncer de boca, com metástase para o pescoço.Qual foi o momento mais difícil do tratamento?A descoberta e o medo dos sintomas de um tratamento agressivo e do corpo ficar muito debilitado e não resistir.Chegou a sentir medo da morte?Sim, isso ocorre. Na verdade, todos nós sabemos que vamos morrer, mas, quando se descobre uma doença grave, a morte passa a ser uma possibilidade além da rotina da vida e ela fica perto, não mais lá, distante, além.Quando nasceu a ideia de colocar esse drama pessoal no livro O Sabor da Jaca?Escrever foi a forma que encontrei para soltar a voz, para gritar em silêncio; para abafar em palavras o que me sufocava em acontecimentos. Escrevia quando era possível, quando o corpo reagia, quando as forças não estavam inexistentes. Esse livro, portanto, não foi escrito na forma linear como hoje se apresenta, mas em formato de confissões aleatórias, daquilo que eu sentia a cada dia e que, depois, precisou ser arrumado em uma ordem que fizesse sentido para quem lesse.Por que o título O Sabor da Jaca?Em 2010, escrevi um texto sobre sentidos e sentimentos que começava com o seguinte parágrafo: “Nunca comi jaca, pois não gosto do aroma e, por isso, imagino que não vou gostar do sabor. Inútil alguém tentar explicar-me esse sabor, porque, para mim, só faz sentido aquilo que posso experimentar e comparar com o que eu já conheço”. Apesar de viver próxima de pessoas que passaram por tratamentos de câncer, era sempre a vivência do outro. A experiência do câncer eu conhecia por relatos ou leituras, mas eu só soube, de fato, o sentimento quando tive de vivenciar. Nesse momento, me lembrei do texto sobre a jaca e disse... é isso! Esse sabor eu só conheci quando degustei.Qual a importância de grupos como o Carinho Contagiante para os portadores da doença em Goiânia?Estar nas mãos de profissionais da saúde que dominam o assunto é fundamental, mas também é importante conhecer os voluntários que encorajam, apoiam, animam e nos transmitem mensagens de fé e superação. Pessoas que dedicam parte de seu tempo para cuidar de estranhos, que trocam sua família, lazer ou seu lar para encorajar desconhecidos.Além de ser associado por muita gente diretamente com a morte, o tratamento do câncer geralmente é doloroso. Não são raros casos de pacientes que desenvolvem quadros depressivos e crises de ansiedade. Como a senhora se fortaleceu psicologicamente para não sucumbir a esses problemas?Primeiramente, com muito apego à fé e à religião. Tenho amigos e familiares de várias religiões e as orações deles também foram fundamentais. Além disso, me apeguei aos profissionais como a psicóloga e a psicoterapeuta que ajudavam a dar um rumo para que minha cabeça pudesse tentar entender tudo o que estava acontecendo. Elas foram meus ombros e meu chão.Muita gente evita até mesmo falar o nome da doença. Na sua opinião, qual a importância de falar de um assunto ainda tido como tabu?O livro tem a intenção de me aproximar de outras pessoas que passaram ou que passam pela mesma situação e, assim, também deixar a minha impressão, a forma como resolvi e passei pelo diagnóstico, pelo tratamento, por experiências, sintomas e locais tão comuns àqueles que se encontram na mesma condição. E, com isso, tentar provocar a verbalização delas e construirmos uma rede de conhecimento e experiências que, de alguma forma, possa ser útil.Qual a principal mensagem que O Sabor da Jaca passa para os leitores?Nunca se colocar como vítima, mas como um ser que passa por uma experiência. Não fazer a comum pergunta: “Por que eu?” Saber que Deus nos escolhe todos os dias para várias situações boas e ruins, tudo é sempre um grande aprendizado na vida. A superação está no tratamento, mas está, acima de tudo, em nós mesmos.Lançamento: Livro O Sabor da Jaca, de Simone Antoniaci TuzzoData: Sábado, às 17 horasLocal: Mr. Black Café Gourmet, do Passeio das Águas Shopping – Av. Perimetral Norte, nº 8.303, Jardim DiamantinaEntrada franca-Imagem (Image_1.2001807)