A área plantada de algodão foi reduzida em Goiás nesta safra em comparação à temporada anterior. O recuo chegou a 23,1%, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os impactos da pandemia de Covid-19 no consumo mundial influenciaram na decisão dos agricultores de reduzir a produção. Mas, com parte do campo em floração e início das maçãs, o cenário é mais positivo que o esperado inicialmente para a cultura. Enquanto o campo não fica tomado pela cor branca, os preços se sustentam e a exportação brasileira ainda está intensa. A concorrência com milho e soja, que apresentam rentabilidade maior, contribuiu nos últimos anos para que o cultivo perdesse a força no Estado, onde já foi destaque. Atualmente, a produção goiana é a quarta maior, porém representa apenas 1,8% do total brasileiro. Fica atrás de Mato Grosso, Bahia e Minas Gerais. Para a safra 2020/2021, a semeadura alcançou cerca de 27,3 mil hectares. Foi a segunda menor área já registrada desde 1976, só ficou atrás do ciclo 2016/2017, quando foram destinados apenas 26,2 mil hectares, conforme dados da Conab. Naquela época, a crise econômica também foi um fator que impactou o plantio e fez o espaço destinado ao algodão ser até seis vezes mais reduzido do que já ocorreu no Estado – recorde foi alcançado nos anos 1997/1998. PandemiaO presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), Carlos Alberto Moresco, explica que o recuo atual é reflexo de decisões de abril do ano passado, quando o avanço do coronavírus paralisou atividades econômicas no mundo todo. “As fiações (produtoras de fios) ficaram paradas na Ásia desde dezembro de 2019 e a maior parte do algodão brasileiro vai para lá”, pontua. Junto com os teares, confecções e até shoppings pararam as vendas, o que mostrava um cenário complicado para investir. O preço foi junto. “Na Bolsa de Nova York, caiu 48 centavos de dólar a libra-peso, abaixo do custo de produção. Por isso, produtores diminuíram a área, porque corriam o risco de passar o ano com safra em estoque.” Moresco relata que aqueles que possuíam a infraestrutura – pois as máquinas usadas no campo são específicas para a cultura – plantaram menos. “Quem não tinha, não plantou e isso levou a uma redução no País”, destaca ao ressaltar que as previsões àquela altura também não encorajavam entrantes. Diante disso, no Estado, além dos grãos, a cana-de-açúcar foi outra aposta como alternativa. Ocupou, segundo ele, “boa parte da área do algodão em função da pandemia”. O representante da Agopa está entre os agricultores que optaram pela estratégia de diminuir o espaço do cultivo. Passou de 2 mil para 850 hectares. “A produtividade que esperamos do algodão safra é na faixa de 320 arrobas por hectare e segunda safra, 290”. No ciclo passado, ele conta que atingiu 326 e 250 arrobas. “Tive problemas com excesso de chuva, este ano o clima está mais favorável.” Produção Ganho de produtividade ou estabilidade são esperados para as lavouras goianas, com variação prevista de 0,1%. A produção deve somar 117,4 mil toneladas de algodão em caroço e 46,3 mil em pluma. Mas para que essas estimativas da Conab se confirmem, ainda é preciso que o clima continue favorável, já que a colheita só começa a ocorrer a partir de junho nas regiões Leste e Sul do Estado. Houve duas épocas de plantio, entre novembro e dezembro e entre janeiro e fevereiro. O último levantamento estima que 70% das lavouras tenham sido implantadas no primeiro período e os outros 30% no outro, que sucede a colheita da soja. “O clima atrasou a janela de plantio da segunda safra e precisa de mais chuva no final para fechar o ciclo com chave de ouro”, destaca Moresco. Boa sanidade também tem sido aliada. Coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado explica que a segunda safra depende da colheita de soja, que por sua vez também precisa ser plantada cedo para maior produtividade. “Houve atraso na soja, que fez com que muitos não conseguissem plantar o algodão”, acrescenta aos motivos que contribuíram para a redução de área juntamente com as questões econômicas como maior rentabilidade do milho. “Hoje a produção de algodão é pequena e tem se tornado safrinha, está migrando por ser uma cultura mais vantajosa. É diferente de soja e milho, muita chuva causa muita doença e plantar na safrinha é mais favorável.” Custos A produção desta safra em curso foi impactada por decisões estratégicas, mas a alta dos insumos vai trazer novos desafios para a cultura de algodão. O ciclo 2021/2022 será influenciado pelo incremento no valor de químicos e especialmente fertilizantes, que tiveram os preços mais elevados por conta do dólar e representam cerca de 30% do custo de produção.Por outro lado, a cotação do produto já se assemelha ao cenário anterior à pandemia. Preços internos estão mais firmes. De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os vendedores estão atentos às altas nos preços externos e nas estimativas de menor produção no Brasil, que contrastam com possível recorde nas exportações da commodity.“Temos terra, produtores e condições climáticas favoráveis, mas a estrutura da cadeia dificulta avanços. A cultura não é fácil como soja e milho e não há indústria de processamento para transformar em fios”, diz Leonardo sobre as barreiras que juntamente com custo-benefício melhor de outros plantios pode manter a produção em queda no Estado. -Imagem (1.2239583)