Apoiados pelos sindicatos das categorias, os 276 trabalhadores efetivos lotados no Hospital de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), que foram transferidos para outras unidades por decisão da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO), anunciaram nesta segunda-feira (25), em assembleia, um cronograma de mobilização na qual está previsto o “velório” da unidade. A medida da SES é em decorrência da mudança de gestão no Hugo a partir de 1º de dezembro quando assume a organização social Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão Pública (INTS) em substituição ao Instituto Haver.A lista dos removidos foi apresentada aos trabalhadores na última quinta-feira (21), durante uma reunião marcada por muita tensão. A grande preocupação dos sindicatos dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SindSaúde), dos Médicos (Simego) e dos Enfermeiros (Sieg) do Estado de Goiás é com os possíveis desvios de funções provocados pela transferência de profissionais que atendem há anos no Hugo, considerada uma unidade de excelência quando se trata de assistência a politraumatizados. Entre os 276 profissionais estão 32 médicos, como 19 clínicos e sete emergencistas, que serão lotados em outras unidades.Além de impetrar um mandado de segurança na esperança de impedir a remoção, o SindSaúde se reuniu nesta segunda-feira com representantes do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). Nesta terça-feira (26), os trabalhadores farão uma manifestação na porta da SES, às 10 horas. Nesta quarta-feira (27), no mesmo horário, os trabalhadores estarão diante do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. A mobilização continua na quinta-feira (28), a partir das 8 horas, quando os trabalhadores farão um velório simbólico do Hugo na porta da unidade.No mesmo dia, a partir da zero hora, os médicos lotados no Hugo farão uma paralisação de advertência de 24 horas. Segundo a presidente do Simego, Franscine Leão Rodrigues Acar Pereira, desde setembro a entidade tenta conversar com os responsáveis pela saúde pública de Goiás e com representantes do INTS a respeito da mudança de gestão no Hugo, mas os ofícios não foram respondidos. “Apresentamos uma pauta de reivindicações que foi ignorada. Estamos preocupados com uma mão de obra qualificada que pode ficar ociosa porque a SES não tem vagas para absorver todos estes profissionais.” Durante a paralisação serão mantidos os atendimentos de urgência e emergência, como preconiza a legislação.Ainda no dia 28, haverá manifestação na Praça do Bandeirante, no Centro de Goiânia, de onde os servidores seguirão em caminhada até a Assembleia Legislativa. A mobilização é para mostrar à população o impacto das mudanças na gestão do Hugo. Os trabalhadores decidiram que no domingo, 1º de dezembro, também às 10 horas, dia em que a OS INTS assume a gestão do Hugo, eles estarão protestando diante da unidade.Para a presidente do SindSaúde, Flaviana Alves, a situação é muito preocupante. “Já sabemos que os novos contratados terão redução de salários e isso vai impactar no atendimento no Hugo. A remoção dos servidores é um ato de irresponsabilidade e mostra a falta de compromisso com a saúde pública.” Logo após a liberação da lista dos removidos, o SindSaúde publicou uma nota em que pede mais respeito com os profissionais. “São estes trabalhadores concursados quem mantêm o hospital funcionando quando as OSs deixam de pagar ou demitem seus colaboradores”, diz Flaviana.ServiçoEm nota, a SES diz que respeita “a livre manifestação e opinião do SindSaúde, mas informa que todas as medidas administrativas estão sendo tomadas para que não haja nenhuma descontinuidade dos serviços prestados no Hugo e que os direitos trabalhistas sejam respeitados”. A medida tem origem nos novos processos seletivos para escolha de OSs que passam a gerir hospitais públicos estaduais. No primeiro semestre, além do Hugo, foram realizados chamamentos públicos para o Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin) e para o Hospital de Urgências de Anápolis (Huana). Em todos, há mudança de gestão. A SES atrasou o repasse de recursos de 2018 para as OSs e isso está refletindo na redução de custos. Mudança de profissionais preocupa sindicatos“Já sabemos que a SES não tem vagas em sua rede para receber estes profissionais especializados e isso nos preocupa muito”, afirma a presidente do Simego, Franscine Leão. Segundo ela, na assembleia realizada pelos médicos no dia 22, houve a participação de muitos profissionais não incluídos na lista comovidos com a situação dos colegas. “São médicos que estão no front. Uma das médicas colocadas à disposição atendeu Cristiano Araújo. Outro, de 70 anos, está lá há 30 e não aposentou por amor ao serviço. Toda a população está suscetível de parar no Hugo.”Roberta Bittar, psicóloga hospitalar, conta que fez concurso em 1998 e desde então está no Hugo. Agora entrou na lista de transferência e conseguiu uma vaga para fazer atendimento clínico. “Totalmente fora da minha área”. Há, segundo ela, casos de colegas instrumentadores cirúrgicos que se especializaram e ainda não conseguiram um lugar para trabalhar. “Não haverá profissional preparado para atender no Hugo a partir de 1º de dezembro”, afirma a presidente do SindSaúde.Segundo servidores do Hugo, o INTS cancelou todos os processos seletivos que havia realizado para elaborar outro com salários reduzidos. Enfermeiros que hoje recebem R$ 4,5 mil serão recontratados com salários de R$ 2,4 mil. “Isso impacta diretamente na assistência”, diz uma trabalhadora. O INTS já teria informado que tomografia computadorizada e transfusões de sangue nos plantões noturnos só vão ocorrer em regime de sobreaviso, ou seja, não haverá profissionais para isto no hospital. “Em caso de AVC isso pode significar a morte.”Entre as mudanças aguardadas também está o não funcionamento da rouparia no período noturno. “Então, se o paciente defecar ou vomitar no lençol durante o plantão noturno, ficará em cima da sujeira até a troca de turno. Além de não oferecer dignidade ao doente, aumenta o risco de infecções”, diz a servidora.O Hugo é uma unidade hospitalar para onde são encaminhados pacientes politraumatizados. Entre os profissionais transferidos constam cirurgiões buco-maxilo-facial que seriam lotados na Central de Odontologia do Estado de Goiás, no Centro de Goiânia, onde são realizados atendimentos mais simples. OS que deixa hospital apresenta balanço de um ano de gestãoO Instituto Haver, que deixa a gestão no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) no próximo sábado (30), marcou para esta terça-feira (26), um encontro com a imprensa para apresentar o balanço de um ano à frente da unidade. Os números serão revelados pelo presidente da OS, Yuri Vasconcelos, mas o instituto antecipa que, além de manter os funcionários que já faziam parte da equipe do hospital, ampliou o quadro por meio de seis processos seletivos, contratando 1.136 novos colaboradores. Todos eles terão seus contratos rescindidos e, caso queiram continuar, terão de aceitar a redução salarial. O Haver assumiu a gestão do Hugo em novembro do ano passado, depois que a OS Instituto Gerir pediu rescisão de contrato com o Estado, alegando que o atraso de repasses estaria comprometendo o funcionamento do hospital. OS está envolvida em polêmica O Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), OS que venceu o chamamento público feito pelo governo de Goiás para assumir a gestão do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), enfrenta críticas no atendimento do Hospital Municipal de Bertioga, no litoral paulista. Segundo o jornal Leia, a OS fez um contrato com a prefeitura local no valor de R$ 32 milhões para gerir a unidade por dois anos. O INTS assumiu a unidade no dia 1º de maio, mas um mês depois as reclamações eram enormes, principalmente em relação ao atraso no atendimento.A OS está envolvida no afastamento pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em setembro do ano passado, do prefeito de Biritiba Miram (SP), Jarbas Ezequiel de Aguiar (PV). Ele assinou um contrato de R$ 10 milhões para que o INTS atuasse no Pronto Atendimento (PA) do município. O valor foi superior ao que a prefeitura pagava a outra OS que geria, além do PA, também os postos de Estratégia de Saúde da Família. Os questionamentos surgiram após o serviço desagradar a população. Jarbas chegou a ser filmado entregando maços de dinheiro a três vereadores, propina que teria relação com o suposto caso de superfaturamento com o INTS. -Imagem (1.1940283)