*Atualizada às 20h25 com informações do ex-secretário de Segurança Pública Ricardo BalestreriO secretário de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO), Rodney Miranda, disse em entrevista, na tarde desta quinta-feira (7), ter indícios de que dados criminais do ano passado foram alterados. "Por exemplo, dados de homicídios que foram desclassificados para outros tipos de crime que não tinham nada a ver. Já temos várias (provas de) materialidade nesse sentido", afirmou. A desclassificação de números de homicídios para outras naturezas criminais ocasionaria a redução da taxa de homicídio.O secretário afirma que existe um inquérito para apurar a possível manipulação de dados. Desde o dia 21 de outubro, o site de estatísticas da SSP está fora do ar. Um aviso informa que uma auditoria está sendo realizada e que dados não ficarão no site pelo período inicial de 30 dias. Contudo, a conclusão pode ser prorrogada por mais 30 dias, a depender do encerramento do inquérito, segundo explicou Rodney Miranda."Temos bastante materialidade que os números de 2018 foram mexidos. Não posso entrar em detalhes porque a investigação está em andamento, mas assim que concluídas, nós vamos primeiro apresentar para vocês os resultados e depois recolocar à disposição da sociedade aqueles dados que não estão sob sigilo", afirmou Miranda. "Estamos vendo se foram irregularidades, se foi a mando (de alguém), quem fez e por que fez. Isso é o que nós queremos explicar."Questionado se os dados de homicídios modificados tinham relação com a estatística de mortes a esclarecer, Rodney afirmou que "também". Em setembro de 2017, o POPULAR mostrou que este índice, que seria quando não é claro se houve suicídio, homicídio, acidente ou morte natural, vinha crescendo em Goiás. O chefe da Segurança Pública do Estado disse também que o intuito da alteração dos dados está sendo apurado. "Mas acredito que seja para maquiar os dados, talvez até com proveito eleitoral; mostrar que a situação não estava tão grave quanto realmente estava. Isso aí nós vamos colocar com clareza para vocês assim que o inquérito for concluído", afirmou.Sobre o motivo pelo qual dados de 2017 e 2019 também foram retirados, Rodney disse que não é possível comparar dados em cima de uma base falsa. "E hoje nós temos uma base falsa em 2018 e talvez até de 2017 também", afirmou.RespostaProcurado, Irapuan Costa Júnior, que foi secretário de Segurança Pública de Goiás no ano passado, negou a possível manipulação de dados durante a sua gestão na pasta. “Tudo que fizemos foi sempre de forma muito transparente. Os dados eram semanalmente divulgados", afirma. "Tínhamos uma equipe qualificada que trabalhava na compilação dos dados de homicídios, essa equipe trabalhava sempre baseada nos boletins e compilava esse material. Não tenho mais nada a comentar dessa acusação, além disso, não há fundamento para tal acusação”, acrescenta.Ricardo Balestreri, por sua vez, que foi secretário da pasta em 2017 até fevereiro de 2018, afirmou ter certeza de que os dados de 2017 não estavam errados. Ele lembra ainda de uma medida tomada por ele, que foi o fim da natureza criminal "mortes a esclarecer". Conforme pontuou Balestreri, naquela época ele determinou que toda morte tivesse uma tipificação determinada em até 30 dias. "Morte é muito grave para que se deixe eternamente por esclarecer. Tem que dar um prazo", disse.Para Balestreri, Rodney Miranda falou que está também olhando dados de 2017 quase como uma "obrigação de ofício", para explicar que estão fiscalizando tudo. "Considero o secretário um homem muito sério e correto. Tenho certeza que ele não faria nenhuma afirmação leviana. Eu entendi como uma explicação de que está olhando tudo, o que é natural. Uma nova gestão tem direito de olhar tudo para trás. Acho que ele é uma pessoa correta, honesta, tenho um convívio e uma visão muito positiva dele", afirmou.O ex-secretário lembrou também que quando esteve à frente da pasta de segurança, em janeiro 2018, lançou uma plataforma digital para consulta pública das estatísticas. Ele afirma que na época fez o convite para que todos acessassem - cidadãos comuns, especialistas - e que apontassem caso identificassem alguma inadequação. "Nunca houve nenhum apontamento nessa direção", disse.Balestreri deixou a SSP e assumiu, no dia 15 de fevereiro do ano passado, o cargo de secretário-chefe do Gabinete de Assuntos Estratégicos do Governo de Goiás. Na mesma data, Irapuam assumiu a SSP.Fora do arO site de estatísticas ficou fora do ar nos primeiros seis meses deste ano. Anteriormente, a base mostrava dados desde 2011, mas, quando retornou, o histórico passou a ser a partir de 2017.O novo site passou a publicar dados de ocorrências de ações de intervenção policial que terminaram em morte, mas sem o número de vítimas. Ao requisitar os dados à SSP no dia 9 de outubro, o órgão disse que se tratava de um número sigiloso, amparado na portaria 750/2016, do ex-governador José Eliton, na época em que era Secretário de Segurança Pública.Entretanto, no dia 26 de abril deste ano, a própria atual gestão repassou os números de mortos em ações registradas como confronto de janeiro a março de 2019 e o mesmo período de 2018 para a reportagem.Além disso, no dia 1º de outubro, antes de a pasta passar a justificar a negativa dos dados com base na portaria de 2016, a reportagem pediu número de mortos em ocorrências de confronto de abril a setembro deste ano e a pasta informou que o número ainda estava em apuração e que o dado só poderia ser repassado após conclusão dos inquéritos policiais.