Enquanto Goiânia vivia sua maior tragédia, em 1987, o jovem Cléoder Luís da Silva Ramos, então com 19 anos, passava todos os dias da semana dentro do quartel do 42º Batalhão de Infantaria Motorizada (BIMtz) do Exército Brasileiro, no Jardim Guanabara, em Goiânia, onde servia como soldado. Foi lá, nas vigílias noturnas diárias que fazia, que ele conquistou a amizade de vários integrantes das Forças Armadas que vieram do Rio de Janeiro atuar na limpeza dos rejeitos radioativos produzidos pelo césio 137, especialmente no Centro da capital. Como morava no Garavelo, na época considerado um bairro distante, com poucas opções de locomoção, Cléoder ficava interno no batalhão. Ele se lembra da chegada de duas Kombis lotadas de macacões descartáveis, parte das famosas “roupas de astronauta”, como eram chamadas na época as vestimentas de proteção das pessoas que trabalham nos locais contaminados pela radiação. “Eram roupas descartáveis, que eles jogavam no tambor depois do uso”, relata. Fruto da amizade, Cléoder ganhou um macacão branco, obviamente sem uso, que conserva consigo até hoje, embora reconheça que na época, jovem e sem acesso a tantas informações, não tinha noção da importância do acidente nem da peça que recebeu como mimo.Hoje o macacão está amarelado pela ação do tempo, mas tem grande importância para o dono. Aos 49 anos, recém-contratado como consultor de uma empresa de alimentação segura, ele procurou O POPULAR para revelar o desejo de dar sua contribuição para a História. Ele sonha com a oportunidade de doar o macacão para o já anunciado memorial do acidente, que nunca chegou a ganhar um projeto consistente e a sair do papel. “Hoje eu sei que foi um acontecimento único no mundo e essa peça tem grande importância para mim”, contou. “Gostaria muito de contribuir para que esse acidente não seja esquecido”.