Só há prazer nos extremos, só há descanso na rotina. A automatização é um dos frutos da evolução da espécie e da sua busca pela economia. Ninguém pensa em que músculos têm de ser acionados enquanto anda, ou que postura gutural deve assumir para pronunciar qualquer palavra. Quem dirige há algum tempo, certamente já teve a experiência de passar horas na estrada, às vezes até ultrapassando, reduzindo marchas, freando, de modo automatizado, sem se dar conta “consciente” de seus atos, pensando em mil outras coisas. É o poder restaurador da rotina. Do outro lado, precisamos de novidades: os extremos. Aquele dia em que ficamos até mais tarde no barzinho, aquela viagem que fizemos até a Patagônia, a noite em que exageramos na bebida, a festa que não poderíamos ter ido, a transa em lugares inusitados... A rotina é quem comanda, necessária para nos dar calma e como referência. Até para fugirmos dela – pois é na fuga da rotina, nos escapes, nos extremos, que chegamos ao prazer.