Em meus anos mais vulneráveis de juventude, meu pai me deu um conselho que jamais esqueci: – Sempre que tiver vontade de criticar alguém – ele disse –, lembre-se de que ninguém teve as oportunidades que você teve. Dizem que um bom livro deve fisgar o leitor já na primeira página. E eu acho este início de O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, arrebatador. No parágrafo seguinte, o narrador diz que, como consequência desse conselho, adquiriu o hábito de se abster de todos os julgamentos. E remata: Abster-se de julgamentos é questão de esperança infinita. Lembrei-me dessa passagem porque dia desses eu lia o conto O Duelo, de Tchekhov, e me deparei com a crueldade de um julgamento como poucas vezes vi na literatura. Uma distinta senhora, em conversa com uma mulher que manteve um caso extraconjugal, sob o pretexto de ser com ela sincera, afirma-lhe: – É uma grande pecadora. Violou o juramento feito a seu marido diante do altar. (...) Por sua culpa, ele perdeu sua juventude. (...) Mas a senhora, minha querida, a senhora se esqueceu de qualquer recato, vive abertamente, excentricamente, como se sentisse orgulho do pecado.