Hoje em dia qualquer indivíduo acha que tocar no seu nome já significa ofender toda a sociedade. Nada mais Brasil 2024, não? Eu acho. Só que não. Por mais contemporânea que a ideia soe, Gógol, autor da frase, referia-se à sociedade russa dos anos 1840, retratada em O Capote. Sim, quase 200 anos depois, qualquer semelhança com nossa realidade não parece ser mera coincidência. Que fique claro que essa é apenas a minha opinião. E é importante que isso fique mesmo claro, porque, ao que tudo indica, muita gente já não sabe mais discernir fato de opinião. Mas sigamos, porque o cerne da questão não está na incapacidade de tal discernimento. A problemática implícita no trecho da narrativa de Gógol, quando abrasileirada e transportada para nossos tempos, remete-me à perda da capacidade de diálogo. A comunicação, que num esquema simples deveria se dar a partir dos elementos emissor, mensagem e receptor, parece estar se reduzindo a algo do tipo “eu falo e você só me escuta, porque o que eu falo é um fato — e não uma opinião —, e todo mundo sabe que contra fatos não há argumentos”.