Há quem diga que a história se move em círculos, mas para os motoristas presos no trânsito engarrafado, parece mais uma linha reta repleta de buracos e congestionamentos. Nos dias de hoje, cada centavo conta, especialmente quando se trata do preço do transporte. Assim, o Uber Moto surge como o novo anti-herói das ruas urbanas. Ele não chega a vestir uma capa, mas anda por aí com uma jaqueta de couro e um capacete, pronto para levar seus passageiros em uma montanha-russa de adrenalina e economia.Por um lado, é impossível ignorar a realidade das estatísticas que piscam em vermelho: andar de moto é arriscado, especialmente nas entranhas do tráfego urbano. É como se estivéssemos brincando de roleta russa em duas rodas, com cada buzina e cada ultrapassagem arriscada sendo uma puxada no gatilho. Não há como negar: o risco está lá, tão palpável quanto a ansiedade que se acumula enquanto você se agarra ao seu motorista como se estivesse segurando uma tábua de salvação em um mar revolto.Mas, então, entra o argumento que seduz até mesmo os mais cautelosos: o preço. Ah, o doce som do dinheiro economizado. Enquanto os táxis e os aplicativos de carro se afogam em tarifas exorbitantes, o Uber Moto acena com sua bandeira de preços baixos e sorrisos cúmplices. É como se estivéssemos recebendo um desconto especial por participarmos de um jogo de risco.Num emaranhado de asfalto e buzinas estridentes, a cidade se desdobra como um palco onde esses anti-heróis fazem seu show e, nós passageiros, somos a assistente-que-põe-a-vida-em-risco. Ele nos seduz com sua promessa de velocidade e economia ao mesmo tempo em que nos adverte dos perigos que espreitam nas sombras das ruas. Mas, no fim das contas, quando estamos apressados e com o bolso vazio, é difícil resistir à tentação de apertar aquele botão e deixar que o anti-herói nos leve em sua perigosa dança pelas ruas da cidade.Nessas horas, confesso que me dá um ódio de Juscelino Kubitschek, o presidente que viu as estradas como o caminho dourado para o progresso nacional. Ah, JK, o “mago das rodovias”, como alguns o chamavam, ele olhou para o Brasil em toda sua extensão continental e pensou “Quer saber? Não precisamos de transporte público decente. O modelo rodoviário tem tudo para dar certo aqui. As estradas nem exigem taaanta manutenção constante para permanecerem seguras e eficientes, elas nunca vão causar uma desigualdade no desenvolvimento. Trem é chato! Deixa que cada um lute pra comprar seu carro e manter ele funcionando”.Em uma sociedade onde a mobilidade é restrita ou controlada por estruturas de poder, como ocorre em muitas cidades onde o acesso ao transporte público é limitado ou caro, a alta de acesso a meios de transporte eficientes e acessíveis pode restringir a liberdade e a autonomia das pessoas. Daí vem a minha relação agridoce com o Uber Moto: ele aumenta a autonomia, mas, ao mesmo tempo, aumenta o perigo. Então fica a minha constante indagação: eu sou mais medroso ou mais mão de vaca? Às vezes a economia é apenas de 7 reais e, em cima da moto correndo pelo asfalto, eu não consigo deixar de pensar “Será que vou morrer por tentar economizar menos de 10 reais?”.