Rogério Borges

Veiga Valle,&nbsp;Frei Nazareno Confaloni,&nbsp;Gustav Ritter e&nbsp;Luiz Curado. Conheça os pioneiros das Belas Artes em Goiás.

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Veiga Valle (1806-1874) - Primeiro grande nome das artes plásticas em Goiás, a trajetória de José Joaquim da Veiga Valle é cheia de surpresas e mistérios. Ninguém sabe ao certo se alguém lhe ensinou sua técnica apurada, de um barroco tardio, colorido e de extremo refinamento. Por muito tempo, suas peças impressionantes ficaram esquecidas, até que nos anos 1940 elas foram tiradas das sombras e seu legado passou a ser reverenciado. O Museu da Boa Morte, na cidade de Goiás, tem o maior acervo do escultor, com 36 peças, incluindo o estandarte com a imagem pintada de Jesus Cristo, que sai à frente da Procissão do Fogaréu na Semana Santa. Suas esculturas trazem nos dedos a letra V duas vezes, marcando as iniciais de seu nome. () 
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Gustav Ritter (1904-1979) Outro europeu que escolheu Goiás e aqui fez história nas artes foi o alemão Gustav Ritter. Era um experimentador nato, em vários sentidos. Aos 21 anos chegou ao Brasil pela primeira vez e fixou-se no Rio Grande do Sul, mas não se adaptou e retornou. Quando Hitler foi eleito chanceler, ele logo identificou os perigos do nazismo e saiu da Alemanha já em 1934, rumando para o Pará, passando ainda pelo Peru, Minas e Ceará. A Goiás, Ritter, que tentou ser marceneiro, só chegou em 1949. Ao lado de Confaloni, ajudou a criar a Escola Goiana de Belas Artes e fez história com esculturas que tinham tridimensionalidade, demonstrando grande apuro técnico e conhecimento de diversas referências da área. ()

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Luiz Curado (1919-1996) - Um dos membros da Santíssima Trindade dos fundadores da Escola Goiana de Belas Artes nasceu em Pirenópolis. Escultor, gravador e professor, Luiz Curado uniu-se a Frei Confaloni e Gustav Ritter para fazer de Goiás um verdadeiro celeiro de talentos nas mais diversas técnicas e estilos. Curado era um intelectual de grande cultura e soube dar as condições necessárias para que o projeto de um espaço acadêmico sólido, no início dos anos 1950, prosperasse. Curado estudou e foi influenciado pela Escola Nacional de Belas Artes e saía pelo interior do Estado em busca de novos talentos, dando um impulso à área. Ele tinha consciência que um de seus legados seria o fomento e a descoberta de muitos artistas. (Luis Curado)

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Frei Nazareno Confaloni (1917-1977) - Ele nasceu na pequena Viterbo, no Lácio, ordenou-se em Florença, berço do Renascimento italiano, mas fez sua revolução no coração do Brasil. Ao chegar por aqui em 1950 para pintar os afrescos da Igreja do Rosário, na cidade de Goiás, Frei Nazareno Confaloni trouxe uma visão moderna de arte. Extremamente aplicado e criativo, Confaloni não só pintou murais impressionantes – como os da Estação Ferroviária de Goiânia e os da Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra –, mas ajudou a movimentar o ensino e o mercado da arte em Goiás. Suas obras são muito expressivas, sejam as de motivos religiosos, nas quais ele promoveu inovações temáticas, seja as de cunho social, fortes e pungentes. (Acervo do MAC)

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86 anos do POPULAR: Conheça os pioneiros das artes plásticas em Goiás

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Matéria - Magazine

A arte é POP

Morreu, na madrugada desta sexta-feira (25), o artista plástico e arquiteto Elder Rocha Lima. Decano das artes plásticas em Goiás, o pintor, escultor tinha 96 anos. A causa da morte ainda não foi divulgada, mas ele estava internado em um hospital de Goiânia há alguns dias por conta de um problema de saúde.

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Elder nasceu na cidade de Goiás, em 1928, onde mantinha um ateliê e trabalhava ativamente, apesar da idade já avançada. Mesmo tendo passado boa parte da vida em Brasília, a antiga Vila Boa sempre esteve presente em suas obras.

<cite>Vai ser sempre lembrado. Contribuiu demais com essa cidade, sempre estava envolvido com alguma coisa aqui em Goiás, além de deixar o livro O Guia Afetivo da Cidade de Goiás. É um clássico, muito bonito, é uma declaração de amor para a cidade", diz a secretária municipal de Cultura da cidade de Goiás, Goiandira Ortiz.</cite>

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O velório está marcado para as 14h30, na capela 7 do cemitério Campo da Esperança, em Brasília. O sepultamento será às 17 horas. Elder deixa a viúva Graça Fleury, fundadora do Instituto Piaget em Goiânia, e filhos. 
 
Arquitetura 
Além de artista plástico reconhecido, Elder deixou sua marca na arquitetura. Graduou-se em 1955, na Universidade do Brasil (atual UFRJ) e desenvolveu centenas de projetos, entre eles o prédio da sede do Grupo Jaime Câmara, no Setor Serrinha, em Goiânia.&nbsp;

Nas redes sociais, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) lamentou a perda, expressou condolências aos amigos e familiares e destacou uma importante contribuição de Elder para a categoria no Estado. "Na equipe de Frei Confaloni, foi um dos fundadores do curso de Arquitetura e Urbanismo da então Universidade Católica de Goiás (atual PUC Goiás)", ressalta a nota do CAU.

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Elder Rocha Lima morre aos 96 anos

Luto

Papagaios, periquitos, araras, maitacas e outros pássaros da família psittacidae invadem o Museu de Arte de Goiânia (MAG) a partir desta quarta-feira (4) na exposição do artista e pesquisador Tai Hsuan-An. A mostra apresenta mais de 90 trabalhos que o chinês colore desde o anos 1970 em uma ode ao meio ambiente, ecologia e ao desenho científico. A entrada é gratuita e segue na agenda da galeria durante todo o mês de setembro.

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Tai nasceu na China, se mudou para o Brasil aos 15 anos e vive em Goiás desde o final da década de 1970. Dos tempos de garoto no Oriente, quando ainda morava em uma cidadezinha rural do sudeste chinês, o artista lembra de adentrar a mata nas montanhas e observar o movimento dos pássaros. Anos depois e já no Cerrado, o profissional mantém uma relação interpessoal com a natureza. É ela, inclusive, que move desde o início todo o seu trabalho com as artes visuais.

“Existem artistas que se interessam por paisagens e pessoas. Eu particularmente gosto de pintar o meio ambiente, como pássaros, cavalos, peixes”, conta o artista, que também é designer, professor e escritor. Tai divide seu tempo entre o ateliê e a sala de aula dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).

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Para as pinturas que integram a exposição, o artista observou pássaros em diversos biomas, como o Cerrado e o Pantanal. Também pesquisou as espécies brasileiras e identificou muitos que ainda são raridade na cadeia ecológica. “Tem desenhos de diversas fases do meu trabalho, mas a maioria foi feita na pandemia. Durante o isolamento, me aprofundei a pintar os pássaros que voavam livres. Foi um refúgio para aqueles tempos”, diz.

O artista apresenta as espécies de maneira altamente realista. Para tanto, foi necessário dedicar muitos anos de pesquisa, estudo e elaboração para concluir o conjunto completo das obras. A exposição não contempla o todo: 12 trabalhos de pássaros especificamente do Cerrado foram enviados ao papa Francisco no ano passado como presente da reitora da PUC Goiás, Olga Izilda Ronchi, durante audiência especial em Roma, capital italiana.

<h2>Processos</h2>

As 94 pinturas da exposição no MAG foram reproduzidas em papel de algodão no formato A3. O que interessa para Tai é apresentar as sutilezas das espécies, o movimento provocado por elas - que parecem se movimentar e voar pela moldura - e a flora ao seu redor, como palmeiras, árvores de caules retorcidos ou grandes folhas em verde cintilante.

“Comecei a pintar aves brasileiras a pedido de um ornitólogo alemão que pesquisava animais do Brasil. Realizei uma extensa pesquisa bibliográfica e consultei ornitólogos em museus para coletar referências. Também fiz observações e registros fotográficos em zoológicos e nos habitats naturais”, conta o chinês, que ganhou destaque e sucesso com a primeira série. Depois da estreia, o profissional se inspirou a desenvolver outros projetos relacionados ao meio ambiente.

A internet e a tecnologia digital ajudaram Tai durante as pesquisas, criação, elaboração, finalização e reprodução das obras em fine art em altíssima qualidade. “A exposição no museu pode atingir vários objetivos que sempre gosto de pontuar, que é apresentar um grande número de obras artísticas para apreciação e didaticamente conscientizar o grande público, principalmente crianças, sobre a valorização da natureza brasileira”, argumenta Tai.

<h3>China revisitada</h3>

Aos 74 anos, Tai Hsuan-An quer mostrar a trajetória chinesa ao longo das décadas no livro O Caminho da China (Editora Trilhas Urbanas), que será lançado na sexta-feira (6), a partir das 17 horas, na Livraria Leitura, localizada no Goiânia Shopping. A entrada é gratuita. A obra destaca os fatores que contribuíram para que o país oriental se tornasse uma das grandes potências mundiais.&nbsp;

“O livro busca afirmar que a escolha do caminho adotado pelos chineses merece respeito. Atualmente, o país desfruta de uma sociedade mais próspera, segura e estável do que qualquer outro período de sua história”, opina Tai, que sempre que pode vai à China não como o olhar de turista, mas como um observador e pesquisador. “Tenho tios, tias e grandes amigos por lá. A última vez que visitei o país foi em 2018, antes da pandemia”, completa o artista.&nbsp;

O livro traça os caminhos históricos e sociais de uma região do mundo em constante transformação. "A China aprimorada tornou-se um país que não só se preocupa com seu próprio povo, mas também com os outros povos do mundo, e ainda é atacada com mais agressividade pelos povos ocidentais. O Ocidente não deseja que a China seja bem-sucedida e, por isso, prefere manter-se em silêncio",&nbsp;reitera o escritor.&nbsp;

<h4>SERVIÇO</h4>

Pinturas de Tai Hsuan-An: Aves Brasileiras (série psittacidae) 
Visitação aberta a partir desta quarta-feira (4), a partir das 8 horas. Mostra segue em cartaz até o dia 29 de setembro&nbsp; 
Endereço: Museu de Arte de Goiânia. Bosque dos Buritis, Setor Oeste&nbsp; 
Horários: terça à sexta-feira, das 8h às 12h e 13h às 17h / sábados, domingos e feriados das 8h às 18h 
Entrada gratuita&nbsp; 
Informações: 35241196

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O artista plástico Tai Hsuan-An e algumas de suas obras que poderão ser vistas a partir desta quarta-feira, no MAG (Diomício Gomes / O Popular)

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O artista plástico Tai Hsuan-An e algumas de suas obras que poderão ser vistas a partir desta quarta-feira, no MAG (Diomício Gomes / O Popular)

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Tai Hsuan-An abre exposição individual no Museu de Arte de Goiânia

Artes plásticas

A exposição Liberdade é Pouco, da artista plástica paulista Fernanda Valadares, está em cartaz no Centro Cultural Octo Marques. A mostra reúne um conjunto de pinturas já conhecidas e outras inéditas da artista. Também apresenta a sua nova série Carceri, composta por telas que têm como fio condutor a observação de espaços de cárcere – como penitenciárias, prisões, centros de detenção, catacumbas e masmorras. Fernanda Valadares tensiona os limites do que se entende por liberdade.

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Da confusão entre paredes e fundos sem fim, as obras reservam uma espécie de desentendimento entre o que é visualmente fruto da memória ou da imaginação. Ao mesmo tempo em que os ambientes edificados pela artista guardam proximidade com o espaço moderno, cheio de definições geométricas e inorgânicas.

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Outra característica marcante da pintora é o efeito do olhar voyeurístico, onde o espectador é colocado em uma posição de quem observa sem ser visto. Ela integra o quadro de artistas fixos da galeria Aura, de São Paulo. A galeria paulistana apresenta a exposição individual, aberta à visitação desta sexta-feira (23/8), até o dia 6 de outubro em Goiânia, com entrada franca.&nbsp;

Exposição debate limites da liberdade e espaços de cárcere

Quando foi lançada em 15 de abril de 1874 no Boulevard des Capucines, coração de Paris, a exposição intitulada Affamés d’Indépendance – algo como Fome de Independência –, reuniu amigos que eram ligados pela arte e por uma visão menos rígida do ofício que os mantinha ligados. As misturas de cores, algumas um tanto ambíguas, com contornos menos regulares, trazendo cenas do cotidiano, personagens anônimos e com uma luz muito especial, que dava um ar de onirismo às telas, não eram exatamente uma novidade em uma França de tantas revoluções e convulsões e que buscava, num período de relativa tranquilidade, encontrar outras identidades para a sua arte. Os pintores ali reunidos não eram totalmente desconhecidos do meio artístico, mas ainda não gozavam de popularidade.

Aliás, esse foi um dos motivos para a iniciativa, como revela a obra História das Pinturas Impressionistas, de Théodore Duret, publicada em 1919 e que é um dos mais importantes estudos para se conhecer um pouco melhor aquele momento que, mal sabiam seus participantes, tornar-se-ia histórico. “Era uma tentativa audaciosa essa de fazer uma exposição particular, envolvendo custos consideráveis, que eles desejavam compartilhar. Para alcançar um número suficiente de visitantes e obter a atenção da imprensa, eles perceberam que deveriam aumentar o círculo e se unir a artistas mais ou menos conhecidos, tendo, como ponto de reunião entre eles, a independência do espírito e a liberdade estética”, escreve. Nascia o Impressionismo, um dos movimentos mais influentes do mundo.

A França tem comemorado os 150 anos daquele verdadeiro acontecimento, mostrando sua imensa importância para o cenário artístico global. Uma grande exposição, que fica aberta até esta segunda-feira (15) no Museu d’Orsay – instituição que é uma espécie de casa das obras impressionistas, com um acervo riquíssimo dos grandes mestres desse estilo –, celebra a data, dando oportunidade ao público de ver 130 telas e gravuras de 31 nomes de relevo do Impressionismo ligados àquele momento pioneiro de 1874. Na Normandia, região francesa que tantas vezes teve seus cenários reproduzidos por artistas impressionistas, preparou mais de 250 eventos em 2024 para comemorar esse aniversário que ajudou tantas cidades, como Rouen e Le Havre, a entrar no roteiro de turistas do mundo todo. 
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Há negociações em curso para trazer essa mostra comemorativa ao Brasil no próximo ano, uma vez que ela deve percorrer várias partes do planeta em uma programação itinerante que faz jus ao que o Impressionismo representou e ainda representa. Afinal, é o movimento que deu ao mundo nomes como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Edgar Degas, Paul Cézanne, Camille Pissarro e Édouard Manet, entre outros. Todos eles figuram no cânone dos mais famosos e cobiçados do mercado das artes. Seus trabalhos estão em destaque nos principais museus do mundo e alcançam valores estratosféricos em leilões, disputados a tapa e com milhões de dólares por colecionadores e instituições. E pensar que, quando foram apresentados pela primeira vez, mereceram tratamento irônico e até desrespeitoso.

Aliás, o nome Impressionismo não constava na exposição inaugural ou em manifestos anteriores. Essa designação foi dada de forma pejorativa pelo crítico de arte Louis Leroy, que anotou esse adjetivo no jornal satírico Le Charivari, fazendo referência a uma das obras da mostra, a tela Impression, Soleil Levant, de Claude Monet, de 1872. A tela traz o nascer do sol no porto de Le Havre a partir da vista que o pintor tinha de seu quarto no Hotel l’Amirauté, com pescadores saindo para o mar em pequenos barcos, mas tendo ao fundo chaminés que expelem uma espessa fumaça, deixando a luz baça nessa espécie de estaleiro. Aquele trabalho, hoje no Museu Marmottan, em Paris, enfureceu o conservador Leroy, que escreveu que toda a mostra era composta por impressões e nada mais. 
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'Une Moderne Olympia', de Paul Cézanne (Divulgação)

 
O nome pegou e logo a exposição, que foi anunciada em jornais de Paris como a reunião de trabalhos de “uma sociedade de artistas, pintores, escultores e gravuristas”, sem que tanta importância lhe fosse conferida, atraiu mais a atenção. Inicialmente ela foi um tanto desprezada, já que na época havia exposições em cartaz no Champs-Elysées e na Escola de Belas Artes, endereços mais nobres no circuito das artes da capital francesa. Toda essa campanha negativa teve repercussões na recepção do evento. As pessoas iam visitá-la, mas os comentários não eram elogiosos. “O público viu neles apenas artistas equivocados, ignorantes, presunçosos, pintando apenas coisas disformes”, escreveu Duret. Camille Pissarro reclamou na ocasião que a crítica os acusava de não terem estudado.

Esse choque inicial foi duro, mas tal termômetro apenas indicava que algo diferente estava em curso. As oitos salas do estúdio de Félix Nadar, fotógrafo para quem quase todo mundo importante de Paris da época posava, foram ocupadas pela exposição, composta por 165 obras, incluindo dez de Degas, 9 de Monet e 7 de Renoir. Era o nascimento de algo muito mais grandioso do que se poderia imaginar na ocasião. Essas peças estão hoje espalhadas ao redor do mundo. Algumas delas podem ser vistas no Museu d’Orsay, como a bela tela Une Moderne Olympia, de Cézanne, e a inefável Répétition d’un Ballet sur la Scene, com várias das bailarinas de Degas. Já La Lecture, de Morisot, integra o acervo da National Gallery, de Washington, e Le Déjeuner, de Monet, pertence ao Städel Museu, de Frankfurt. 
 
Um passeio com os impressionistas 
Algumas das paisagens mais conhecidas do Impressionismo podem ser visitadas em várias regiões da França. De norte a sul do país, é possível encontrar cartões-postais, cidades, monumentos ou museus que têm relação estreita com o movimento artístico iniciado 150 anos atrás. Essa particularidade incrementou até mesmo o turismo. Talvez nenhuma outra escola artística tenha desempenhado uma influência tão grande na elaboração de roteiros de passeios e excursões culturais, unindo natureza deslumbrante, História e muitas curiosidades pessoais de seus principais expoentes. Claro que Paris, berçário dessa revolução nas artes plásticas, é um local privilegiado para iniciar esse itinerário cheio de cores e texturas, com visões que podem ser mais luminosas ou um pouco mais soturnas. 
 
Uma das telas mais famosas de Camille Pissarro, por exemplo, é a magnífica Boulevard Montmartre à Noite, que traz um efeito esplendoroso de um céu de azul chumbo com as luzes festivas de uma das principais avenidas da capital francesa, ajudando a consolidar a imagem de uma metrópole moderna e cosmopolita. Este trabalho está hoje exposto na National Portrait Gallery, de Washington, e apesar de não figurar entre os quatro quadros que o pintor levou à exposição pioneira, ilustra bem seu estilo. Pissarro também retratou outros pontos da cidade, como a Ópera. Outra tela notória é Baile no Moulin de la Galette, de Auguste Renoir, que foi pintada em 1876, dois anos depois da mostra inaugural do movimento, reproduzindo uma cena de festa típica do bairro de Montmartre. 
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'Boulevard Montmartre à Noite', de Camille Pissarro (Divulgação)

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Aliás, não há bairro mais impressionista em Paris que Montmartre. Suas ladeiras, seus cabarés, suas feiras constam em diversos trabalhos do movimento e é um tradicional chamariz de artistas inspirados naqueles franceses do século 19. Ali, o Museu Montmartre, pequeno, mas rico, traz os traços de quem por ali viveu e circulou, imortalizando locais e cenas urbanas. Renoir foi um deles e não há lugar melhor para comprar souvenires que fazem referência aos impressionistas. Nas proximidades da majestosa Basílica de Sacre-Coeur, no alto da mais frondosa colina de Paris, há plaquinhas informando que determinado imóvel foi, no passado, o ateliê de pintores como Vincent Van Gogh, considerado um pós-impressionista, e Salvador Dalí, um dos pais do surrealismo. 
 
Na capital francesa, pródiga em museus e centros culturais, é possível se deslumbrar com várias das obras fundadoras do Impressionismo. O Museu D’Orsay se destaca pela quantidade de peças desse movimento em seu acervo, mas há outros também muitos bons que valem a visita, como o L’Orangerie, no Jardim das Tulherias, e o espetacular Museu Marmottan Monet, ao lado de Bois de Boulogne, que sedia uma das mais formidáveis coleções do pintor Claude Monet. São mais de cem obras, cedidas ao espaço por um dos filhos de Monet, Michel, em 1966. A instituição passou a ser uma legatária desse verdadeiro tesouro que deixa o visitante até tonto de tanta beleza. São amplos salões ocupados com as cores difusas daquele mestre dos pincéis, com destaque especial para as nenúfares. 
 
Aliás, só há um local que rivaliza – e ganha – do Marmottan quanto à importância do acervo de Monet: a casa do pintor em Giverny, a cerca de 40 minutos de trem da capital francesa. A residência onde o artista passou os últimos anos de sua vida é um espetáculo à parte por vários motivos. O próprio imóvel, com sua arquitetura elegante e suas cores rosa claro e verde, é um encanto. Dentro dele, cômodos e mais cômodos com telas do antigo dono, obras de amigos próximos – entre eles, a nata do Impressionismo, obviamente – e objetos pessoais. Mas nada supera os jardins, com os lagos onde estão as plantas aquáticas que o imortalizaram. É possível passear por alamedas e pontes cercadas por pequenos lagos formados por canais que dão no Rio Sena, no ambiente em que Monet pintava as ninfeias. 
 
Os arredores de Paris possuem muitas referências que ajudam a contar a história do movimento. Em Sevres está o parque cujo caminho Félix Bracquemond reproduziu em uma das gravuras que constavam do catálogo da mostra pioneira. Já a tela O Outono, Margens do Sena Perto de Bougival, de Alfred Sisley, datada de 1873, que também fez parte daquela vernissage e hoje exposta no Museu de Belas-Artes de Montreal, no Canadá, traz o Rio Sena cercado por bosques na localidade de Bougival, que ainda é um reduto para quem busca sossego e contato com a natureza. Mas os impressionistas, ainda que se concentrassem em Paris, ampliaram seus olhares para muitas outras regiões, algumas delas ganhando certa preferência de vários deles. 
 
Este é o caso da Normandia, verdadeira paixão de pintores como Monet e Pissarro. A Catedral de Rouen, capital da região, foi um dos monumentos que ganharam várias versões nos cavaletes de Monet. Ele também gostava de paisagens marinhas, como as escarpas do Porto d’Aval. Foi um quadro concebido por Monet no porto de Le Havre que batizou o movimento. Renoir também produziu muito por lá. Uma de suas séries sobre a Normandia mostra várias cenas nos arredores do Château de Wargemont, das terras que vão até o mar aos jardins particulares da propriedade. A foz do Rio Sena e as áreas que a cercam são outros locais amados pelos impressionistas. Várias obras produzidas por esse grupo podem ser vistas no Museu de Arte Moderna André Malraux, em Le Havre. 
 
Outra parte da França com forte presença dos impressionistas é a Côte d’Azur, na costa mediterrânea. Nas colinas de Cagnes-sur-Mer, perto de Nice, está o último refúgio de Renoir. O casarão, com seu amplo jardim e vista para o mar, pode ser visitado. No imóvel existem dezenas de obras do artista plástico, além de sua cadeira e cavalete adaptados, já que ele tinha muitas limitações de movimento por conta da artrite reumatóide. Já um outro pintor, que foi fortemente influenciado pelos impressionistas, também encontrou na região o lugar ideal para produzir sua arte. Henri Matisse possuía um grande imóvel perto de ruínas romanas na parte alta de Nice e ali instalou seu ateliê. Um museu em sua homenagem foi montado no local. Aliás, o artista está sepultado no cemitério de uma igreja vizinha. 
 
Para quem não tem a oportunidade de ir até a França ver de perto essas obras-primas, há outras opções para apreciá-las. Vários museus que têm telas impressionistas em seus acervos disponibilizam visitas virtuais na internet, como o Hermitage, da Rússia, o Rijksmuseum, de Amsterdã, o Metropolitan, de Nova York, e o Museu do Prado, de Madri. Este último, por sinal, teve forte impacto no trabalho de Édouard Manet, que o visitou em 1865 e se deslumbrou com obras de mestres como Goya e Velázquez. É notório, por exemplo, que a tela Vista do Jardim da Villa Medici, em Roma, de Velázquez, é uma referência não só para Manet, como também para Pissarro, Monet e Renoir. No Brasil, há obras impressionistas de Renoir e Degas no Museu de Arte de São Paulo, o MASP. 
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'O Outono, Margens do Sena Perto de Bougival', de Alfred Sisley (Divulgação)

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ARTISTAS IMPRESSIONANTES 
Claude Monet (1840-1926) – Os jardins que pintou, com ninféias em lagos, são conhecidos no mundo todo. Ele produziu telas de todos os tamanhos, das menores a imensos painéis, como um belíssimo que pode ser visto no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). A catarata foi embaçando sua visão na velhice e criando um estilo, com formas menos nítidas. 
 
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) – Além de paisagens e cenas urbanas captadas com maestria, Renoir se destacava por telas de extrema delicadeza que “flagravam” pessoas no ambiente doméstico – numa aula de piano, lendo ou apenas cochilando tranquilamente numa cadeira. Cada uma mais linda que a outra, num trabalho de cores magistral. 
 
Edgar Degas (1834-1917) – Algumas de suas telas são icônicas, como O Absinto e Aula de Dança, esta última emblemática de um de seus temas preferidos: as bailarinas. Elas ficaram famosas em Degas, seja em telas, seja em esculturas. Mas ele também pintava retratos e cenas que mostravam seu pleno domínio da luz, mesmo sem explorar cores fortes. 
 
Édouard Manet (1832-1883) – Manet, trazendo as influências de mestres espanhóis e de Delacroix, mostrou alguns caminhos para o movimento, seja com telas com vários elementos, como Música nas Tulherias, seja em obras mais ousadas, como Le Déjeuner sur l’herbe. O realismo, escola que também representou, ecoou em seus trabalhos posteriores.&nbsp; 
 
Camille Pissarro (1830-1903) – O artista plástico tinha um talento singular para captar cenas de grande beleza, por mais simples que fossem. Ele adorava levar para suas telas imagens do campo, de praias, de locais mais amplos das cidades ou de momentos belos do dia, como o crepúsculo. Ele, que nasceu nas Ilhas Virgens, tinha no mar um tema recorrente. 
 
Paul Cézanne (1839-1906) – O pintor tinha uma vertente um pouco distinta dos demais, mobilizando sensações mais sombrias em alguns trabalhos ou adotando contornos menos óbvios, até em naturezas mortas. Telas como As Banhistas e Une Moderne Olympia, demonstram um estilo mais independente e surpreendente. 
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