Atendendo à recomendação do Ministério Público do Estadual de Goiás (MP-GO), a Diretoria de Vigilância Sanitária de Aparecida de Goiânia interditou, na manhã desta sexta-feira (13), o Hospital Garavelo, situado no município. Com dez crianças ainda internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, a unidade de saúde agora está impedido de receber novos pacientes e deverá informar cada alta dada à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia. Entre as irregularidades constatadas no local, estão a ausência de um farmacêutico responsável, remédios vencidos, estrutura precária, aparelhos danificados e taxas de mortalidade infantil acima do preconizado pelo Organização Mundial da Saúde (OMS).A interdição foi uma ação conjunta do Fórum dos Conselhos Regionais da Área da Saúde (FCras), Corpo de Bombeiros e a Diretoria de Vigilância Sanitária que faz parte da Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia.A superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Aparecida, Vânia Cristina Rodrigues, pontuou que os indicadores de desempenho da unidade preocupavam. “Quando a mortalidade infantil é alta significa que a assistência não está sendo realizada de forma adequada. A população precisa ser atendida em locais que tenham capacidade de reduzir a mortalidade. Manter as portas abertas desse hospital é aumentar ainda mais o número de óbitos. O Hospital do Garavelo é o local onde mais se morrem crianças em Aparecida de Goiânia. Pela OMS, a média é de 12 crianças para 1.000 nascidas. Aqui temos 15,8 para 1.000 nascidos em 2017 e em 2018 já estamos com 9,9 e ainda estamos no primeiro semestre. Não estamos fazendo uma interdição para atrapalhar a população, estamos querendo que a população seja atendida com qualidade”, completou Vânia.Diretor de Controle e Avaliação da SMS de Aparecida de Goiânia, Luciano de Moura Carvalho afirma que o hospital não atende aos requisitos necessários para funcionamento. Com um projeto arquitetônico de mais de 30 anos, o local precisa passar por mudanças, inclusive, estruturais. “Quando o hospital foi inaugurado não existia a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A unidade não possui uma central de material e esterilização adequada, precisa da aprovação de uma nova planta baixa, uma nova cozinha e alvará de funcionamento do Corpo de Bombeiros”, completou.HistóricoOs problemas da unidade de saúde não são recentes e, de acordo com a recomendação do MP-GO, existem há pelo menos 1 ano, mas já estariam se arrastando com reclamações e vistorias desde 2014. No último dia 4 de junho, o promotor Reuder Cavalcante Motta, da 2ª Curadoria de Saúde solicitou a interdição no prazo de 15 dias, que termina na próxima quinta-feira (19). Uma reunião está agendada para a próxima segunda-feira com representantes da unidade de saúde, Ministério Público e SMS.O hospital é particular, mas é credenciado pelo Sistema Único de Saúde e, de acordo com a SMS de Aparecida, os pagamentos dos serviços prestados se encontram em dia. “No ano passado o hospital foi interditado pela Vigilância Sanitária Estadual e no mês de fevereiro foi desinterditado. Legalmente, por forças de documentos, estava apto a funcionar. Como temos deficiência de leitos de UTI, continuamos encaminhando crianças conforme disponibilidade do serviço. Já os outros serviços do hospital não estavam sendo realizados por vontade da própria administração do hospital”, finalizou o diretor Luciano de Moura.Apesar de o agendamento ter sido feito para esta sexta-feira, a superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Aparecida, Vânia Cristina Rodrigues afirmou que recebeu um pedido do secretário Alessandro Magalhães para que o procedimento fosse cancelado e por esse motivo, chegou a pedir demissão do cargo.O secretário de saúde, Alessandro Magalhães afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não houve o pedido de cancelamento da interdição. Ele disse que havia apenas orientado para aguardar a reunião de segunda-feira com o (MP-GO). Com autonomia para interditar o hospital, a Vigilância Sanitária optou por dar prosseguimento à ação.A direção do Hospital Garavelo preferiu não se pronunciar sobre o assunto. Técnicos podem ser proibidos de trabalharTécnicos de enfermagem cumprindo atividades que são privativas dos enfermeiros foi um dos motivos pelos quais o hospital já havia sido notificado pelo Conselho Regional de Enfermagem em Goiás (Coren), que também esteve no local nesta sexta-feira. “Apresentamos um relatório de notificação do serviço de enfermagem deste hospital desde 2014. Gradativamente, voltamos após a ação civil pública para verificar o serviço de enfermagem. O quantitativo de enfermeiros 24 horas para atender a todo o hospital foi uma das orientações e encontramos aqui uma imensa sobrecarga de trabalho. Nós notificamos a direção do hospital e também a enfermeira responsável pela equipe. Se no prazo de 5 dias úteis, a defesa que fizerem não estiver de acordo com as notificações feitas, faremos a interdição ética, ou seja, proibiremos que os profissionais exerçam suas atividades dentro da instituição”, explicou a presidente do Coren, Ivete Santos Barreto.MedicamentosO Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás (CRF-GO) encontrou medicamentos vencidos nas prateleiras incluindo anestésicos usados em procedimentos cirúrgicos e antibióticos. O armazenamento também não estava adequado.“A situação mais grave encontrada pelo CRF, entretanto, diz respeito à ausência de um farmacêutico responsável pelo local. Por esse motivo, o estabelecimento foi autuado e possui um prazo de 5 dias úteis para apresentar uma defesa, além disso também aplicamos uma multa de R$ 1.245,00”, explica o gerente de fiscalização do CRF, Edmar Viggiano.Bombeiro diz que prédio não possui prevenção a incêndiosO Corpo de Bombeiros também esteve na unidade hospitalar e conferiu uma situação já notificada há pouco mais de 30 dias. O local não possui extintores de incêndio em situação regular e nenhum sistema preventivo. Os bombeiros abriram um processo administrativo, mas se a situação não se resolver, pode haver autuação e multa.O Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região também autuou o hospital devido ao aparelho de gasometria utilizado na UTI neonatal, que está danificado. De acordo com a gerente de fiscalização do órgão, Hayla Cavalcante, o hospital possui 15 dias para regularizar a situação, caso contrário, será intimado. “O gasômetro daqui é muito antigo e não está informando as doses de sódio e potássio da UTI. Isso implica diretamente nos resultados dos exames”, finaliza.