O nível do Rio Meia Ponte baixou para 3.800 litros por segundo. A vazão registrada nesta quarta-feira (8) no manancial, no ponto de captação da Saneamento de Goiás S/A (Saneago), é quase 7% menor que os 4.068 l/s registrados na semana anterior. Por causa da redução sistemática do volume no manancial responsável pelo abastecimento de 52% da capital, uma reunião no Ministério Público de Goiás (MP-GO) determinou que a companhia apresente até o próximo dia 15 um plano de racionamento para a Região Metropolitana de Goiânia.Além do Ministério Público, participaram da reunião representantes da Agência Goiana de Regulação (AGR) e da Saneago. Após a entrega do plano, a AGR deverá analisar o documento, remetendo-o ao MP.O governo de Goiás insiste em uma visão otimista, afirmando que não haverá racionamento. Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, o governador José Eliton, candidato à reeleição, afirmou que a água tratada do Ribeirão João Leite será utilizada para suprir a escassez do Rio Meia Ponte durante o período de estiagem. Para isso, o Estado conta com a construção de uma adutora de 13 quilômetros de extensão que interligará a Estação de Tratamento de Água (ETA) Mauro Borges (do Sistema João Leite) ao Sistema Meia Ponte.A previsão inicial de entrega da adutora era 31 de agosto. No entanto, uma nova data foi afirmada nesta quarta-feira: primeira semana de setembro.Além da obra, o governador citou o clima e o aumento da fiscalização deste ano como fatores que devem contribuir para não faltar água na torneira dos goianienses.“No ano passado, tínhamos uma vazão de mil litros por segundo a menos que temos neste ano. Sendo que, neste ano, tivemos 20% a menos de chuva. Este é um reflexo das ações que foram tomadas desde então pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), pela Saneago e por todos os envolvidos na recuperação do Rio Meia Ponte”, afirmou.InevitávelApesar do otimismo governista, o presidente do Comitê da Bacia do Meia Ponte, Fábio Camargo, afirma que, se persistir esse cenário de quedas consecutivas no nível do rio, o racionamento será inevitável. Isso porque, segundo ele, a captação da Saneago está prestes a entrar na vazão ambiental do Meia Ponte, que é de 3.500 l/s. Essa a quantidade de água necessária para manter o ecossistema do rio em equilíbrio.A outorga da Saneago é de 2.300 l/s, volume necessário para garantir o abastecimento de parte de Goiânia e Aparecida. Mas Camargo destaca que a Secima reajustou a autorização, que hoje só pode retirar 2.000 l/s. “Um plano precisa contar o que será feito para diminuir esses 300 litros por segundo. Como suprir tal cenário?”Camargo diz não acreditar que a integração das duas estações de tratamento de água (Meia Ponte e João Leite) seja suficiente para evitar interrupções no fornecimento de água. “É preciso ter transparência”, diz.Companhia nega necessidadeA Saneago informou que o Plano de Racionamento para Goiânia e Região Metropolitana está em fase de elaboração e deverá ser entregue à Agência Goiana de Regulação (AGR) dentro do prazo estipulado pelo Ministério Público. No entanto, voltou a afirmar que a utilização do plano não será necessária.Para a Saneago, o cenário deste ano está diferente do que ocorreu no ano passado, quando o Meia Ponte chegou a secar abaixo do ponto de captação e diversos bairros passaram dias com cortes de água.Técnicos da Saneago acreditam a que chuva registrada nesta quarta-feira na capital também vai contribuir com a melhora do nível do rio. No entanto, destaca em nota que a necessidade de implantar o racionamento vai depender “especialmente das retiradas de água pelas propriedades rurais”.Três perguntas para Marcelo de Mesquita Lima, presidente interino da Saneago1 - O uso da água do João Leite será permanente ou apenas para momentos de crise?Todo projeto de abastecimento da Região Metropolitana é baseado no Sistema Meia Ponte combinado com o Sistema João Leite. Quando temos água abundante no período da chuva no Rio Meia Ponte, usamos a de lá. Nos períodos de escassez hídrica, temos a água que foi armazenada no João Leite, que vem suprir as carências do Rio Meia Ponte. Uma bacia cobre a outra e garante o abastecimento da população.2 - Como será o plano de racionamento?A Saneago se prepara para o melhor e se prepara para o pior. Todos os números do passado não podem servir de base porque não sabemos como vai chover amanhã. Nem mesmo os meteorologistas têm bolas de cristal. O que notamos hoje é que os números indicam que as ações que a Secima fez na Bacia do Rio Meia Ponte já estão trazendo resultados.A medição desta semana está mantendo 3.800 litros por segundo (l/s). Isso é suficiente para o abastecimento da a cidade. Se essa vazão baixar, a gente entra com a obra de integração onde vamos poder escoar mais de 750 mil litros do João Leite para o Sistema Meia Ponte. Hoje a visão que temos do monitoramento diário é que a gente não deve passar por quadro de racionamento ou quadro de falta de água na Região Metropolitana.3 - Já noticiamos várias cidades do interior do Estado que estão sofrendo com a escassez de água. O que está sendo feito?Temos monitorado todos os municípios do Estado. Desde a época das chuvas fizemos um planejamento de construção de reservatórios, perfuração de poços. Temos acionado a fiscalização sempre que somos informados de alguma irregularidade, para que atue preventivamente devolvendo vazão ao rio. Só as ações dessa semana de captações ilegais e uso irregular devolveram ao Meia Ponte 320l/s. Onde tomamos conhecimento, estamos atuando.