-Imagem (Image_1.1415292)Fiéis católicos de Formosa, a 280 km de Goiânia, organizam o manifesto Janeiro em Branco, que consiste na não devolução do dízimo até que o atual bispo da cidade, dom José Ronaldo Ribeiro, preste contas sobre os gastos da diocese. Segundo os membros do episcopado do Entorno do Distrito Federal, desde que o bispo assumiu, em janeiro de 2015, ele não apresenta registros de gastos da cúria, nem onde foram aplicados os recursos conquistados nas três últimas grandes festas da Catedral.O manifesto surgiu depois que alguns membros da diocese, que integra 20 municípios, passaram a questionar a falta de transparência da cúria. “Como a igreja e o Papa sempre destacam o combate à corrupção, pensamos que deveríamos fazer alguma coisa, porque percebemos que algo está errado. Nós devolvemos o dízimo esperando que esse valor seja empregado na evangelização, no trabalho cristão, mas não sabemos para onde esses valores estão sendo enviados”, aponta um participante da igreja.No dia 28 de janeiro deste ano uma ocorrência foi registrada na Polícia Civil depois que um dos funcionários da diocese percebeu fraude em documentos de compras realizadas em um supermercado. Ele foi até a delegacia e comunicou o ocorrido, que foi registrado como estelionato. O funcionário informou que haviam compras de cerca de R$ 4 mil em nome da igreja e destacou que para realizar tais aquisições era necessário ter um código e uma senha que apenas ele e mais duas pessoas, além do bispo, tinham.Dois dias depois, segundo consta no Registro de Atendimento Integrado (RAI), o mesmo funcionário retornou à delegacia para retirar a queixa, informando que gostaria de evitar um possível escândalo na instituição onde trabalha. O delegado José Antônio, de Formosa, confirmou a investigação, mas que ainda não está concluída. Este fato reforçou a intenção dos fiéis em cobrar transparência do bispo, que não tem atendido aos pedidos de esclarecimentos da população católica.Ainda na pauta de insatisfações dos fiéis está uma extensa lista de veículos da diocese. São 57 carros e motos, desde os mais antigos, como um VW Gol azul de 1988; e uma Veraneio 1967, até um Hyundai Tucson Turbo 2018 e o carro utilizado pelo bispo, uma Mitsubishi L200 Triton 2015. “A falta de transparência na apresentação das contas nos leva a ter dúvidas. Apresentar as contas é uma obrigação e ele não tem feito isso. Não sabemos a necessidade de se comprar tantos carros e pela falta de informação, chegamos à conclusão de que pode estar ocorrendo abuso do poder econômico”, analisa.E esses veículos acumulam diversas multas de trânsito, a maioria por excesso de velocidade. Um dos carros que pertencem à diocese é utilizado por um padre da igreja matriz, um Toyota Hilux 2015, e tem pelo menos 15 infrações por exceder o limite de velocidade. Essas situações levaram os fiéis a procurarem a Nunciatura Apostólica, em Brasília. “Já enviamos pelo menos sete cartas, mas não tivemos retorno de nenhuma.” A reportagem entrou em contato com a Nunciatura, que informou que não possui assessoria de imprensa e que não comenta esse tipo de circunstância.FilhosOutra situação questionada pelos fiéis é a presença dos “filhos” de dom José Ronaldo Ribeiro na casa episcopal, que é onde ele mora. Um membro da diocese informou que esses chamados filhos são sustentados pelo padre por trabalho de evangelização. Seriam pessoas que deixaram o vício em drogas e práticas criminosas depois de terem contato com o cristianismo, mas o fato de morarem na casa episcopal incomoda os fiéis por diversos motivos. “O custo da casa passou de cerca de R$ 5 mil quando o antigo bispo morava aqui para média de R$ 40 mil. Não concordamos com isso”, pontua.Os fiéis que conversaram com a reportagem pediram para não ter o nome divulgado porque temem algum tipo de punição ou retaliação na cidade. “Eu não gostaria de julgar, mas não tenho certeza da relação do padre com essas pessoas e nem se elas podem me prejudicar, me perseguir em alguma situação, mas estamos cansados de ver calados todas essas irregularidades. Temos que buscar algum meio de ter a transparência que temos direito, afinal, é o nosso dinheiro.”Acusações O bispo da diocese de Formosa sofreu acusações semelhantes quando era responsável pela diocese de Janaúba (MG). Em 2010 ele concedeu entrevista para um jornal local, o Jornal da Serra Geral, e disse que tinha consciência tranquila e que ele mesmo havia colocado as contas da cúria à disposição do clero. A reportagem tentou contato por telefone com o bispo por dois dias, mas não conseguiu resposta.Reclamações na ouvidoria do MPUm documento com data de 6 de dezembro e assinado por fiéis da Diocese de Formosa, encaminhado à ouvidoria do Ministério Público, aponta a suspeita de irregularidades na administração financeira da Mitra Diocesana, que apesar de ser de atividade pública, tem sua movimentação financeira resguardada como instituição particular.Esse comportamento dos administradores incomodou a população a ponto deles recorrerem ao órgão para pedir ajuda e cobrar que as contas e movimentações financeiras sejam apresentadas. Outra petição foi enviada ao órgão nesta segunda-feira (11). Os fiéis não descartam encaminhar a denúncia para outros órgãos, como Ministério Público Federal e Polícia Federal. “A nossa intenção é tornar claro tudo que acontece dentro da gestão da diocese. Se não há nenhum problema, o episcopado não tinha a necessidade de evitar a prestação de contas. Esconder esses documentos nos deixa com suspeitas e insatisfeitos com a forma com que nosso dízimo está sendo tratado”, analisa um fiel.