O governo vai contratar até 7 mil militares da reserva das Forças Armadas para auxiliar no atendimento nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e liberar servidores do órgão para reforçar a análise dos benefícios. O objetivo, segundo o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, é pôr fim à fila de 1,3 milhão de pedidos sem análise há mais de 45 dias até o fim de setembro de 2020. Somando aos pedidos com menos tempo de espera, a fila já chega a 2 milhões no País.Em Goiás, estimam-se em 30 mil solicitações realizadas após a reforma da Previdência nacional aguardando análise. Os militares da reserva contratados temporariamente para essa função receberão um adicional de 30% sobre a remuneração, pago pelo próprio INSS. A Secretaria estima um custo de R$ 14,5 milhões ao mês durante nove meses - ao todo, um gasto de R$ 130,5 milhões. Marinho disse que haverá remanejamento de recursos dentro da própria pasta para acomodar a despesa.Segundo o secretário, o custo compensa porque a redução da fila evitará que o governo tenha que pagar correção monetária sobre os benefícios concedidos em atraso. O gasto com a correção monetária chegou a R$ 200 milhões no ano passado, quando a fila de pedidos já estava crescendo, e poderia chegar a R$ 300 milhões neste ano. Parte desse valor deve ser economizada com a estratégia anunciada ontem.Os militares serão chamados - a apresentação será voluntária - e treinados ao longo de janeiro e fevereiro. A partir de março, haverá a implementação integral da nova estratégia. Em abril, Marinho estima que as medidas já poderão operar com força totalA partir daí, o secretário diz que a fila começará a cair num ritmo de 150 mil a 160 mil pedidos ao mês. Sem a estratégia, o governo levaria cerca de 15 meses para acabar com a fila, prazo agora reduzido a seis meses.Mesmo após setembro, segundo o secretário, não há expectativa de que o estoque de processos pendentes seja zerado por completo. A meta, diz Marinho, é que os casos não fiquem acumulados - ou seja, que o número de novos pedidos seja similar ao número de processos concluídos. O secretário disse que há 988 mil pedidos que entram todos os meses no INSS e que não é possível zerar o estoque. O governo trabalha, porém, para que a entrada de requerimentos seja compatível com a capacidade de análise do órgão.Sistema desatualizadoConforme registrou O POPULAR na quinta-feira (9), as longas filas ocorrem porque o sistema está desatualizado em relação às novas regras da Previdência no Brasil, promulgadas em novembro de 2019. “A legislação prevê uma regra. A gente tem que transformar essa regra em regras de sistema”, informa o analista do Seguro Social e chefe da Seção de Manutenção de Direitos da Gerência Executiva do INSS em Goiânia, Gilson Cardoso. Ontem, o presidente do INSS, Renato Vieira. afirmou que o governo levará aproximadamente dois meses para concluir a adaptação dos sistemas às novas regras da reforma da Previdência.Em Goiás, Cardoso explica que enquanto ainda não há a adaptação dos sistemas, são analisados 5 mil pedidos anteriores à reforma que também estão represados. “Desse porcentual que está parado queremos processar 30% de forma automática assim que forem implementadas as novas regras de concessões automáticas”, explica Cardoso. Hoje essa média de processamento sem a necessidade de intervenção de servidores é de 20%.Segundo Cardoso, há uma força-tarefa de servidores da Secretaria de Previdência e Trabalho, do INSS e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (DataPrev) na adaptação do sistema para que ele passe a processar essas concessões automáticas, “bem como as novas regras de todas as espécies de benefícios”. Entre as medidas para ajudar nesse processo, ele cita a formação de centrais de análise especializadas por espécies de benefícios. Cardoso lembra que o prazo que o INSS tem para deferir ou indeferir um processo, que é de 45 dias, começa a contar a partir do momento que o segurado apresenta toda documentação. O segurado que estiver nessa fila de espera e passar dos 45 dias, “já receberá com correção monetária”. Cardoso ressalta que os benefícios de salário-maternidade, auxílio-doença, auxílio-reclusão, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e pensão vitalícia para crianças com microcefalia causada por zika continuam sendo processados normalmente.-Imagem (1.1973073)