O aumento no número de mortes pelo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás pode ter relação com a flexibilização das atividades econômicas a partir da segunda quinzena de julho. A análise é do biólogo e pesquisador Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Segundo ele, os óbitos de agora são causados por contaminações ocorridas, principalmente, no fim da quarentena alternada.De acordo com os boletins divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde, do dia 4 ao dia 10 deste mês foram contabilizadas 307 mortes em Goiás. De 18 a 24, o número saltou para 422. O crescimento dos óbitos ocorre em um cenário no qual a quantidade de casos confirmados não apresenta aumento. De 4 a 10 deste mês, Goiás teve 18 mil registros de infecções e de 18 a 24 o total foi de 16,5 mil. Os dados verificados se referem à data na qual são divulgados pelas secretarias de saúde de Goiânia e do Estado. Como costuma haver atrasos na inserção nos sistemas, a apuração pode ser prejudicada.Rangel é um dos responsáveis por estudos de projeções da Covid-19 em Goiás. Ele afirma que o que ocorreu na primeira semana de agosto foi um reflexo do fechamento de 14 dias do comércio e atividades não essenciais na primeira quinzena de julho. “Agora, a partir da segunda quinzena de agosto, estamos falando de mortes de pessoas que tiveram contato com o vírus a partir da segunda quinzena de julho. A abertura estava programada, mas o que tivemos foi uma desmobilização geral em Goiás, inclusive com o anúncio do prefeito Iris Rezende (MDB) de que Goiânia estaria reabrindo completamente. Este cenário envolve a Região da 44, a Feira Hippie, o transporte interestadual e intermunicipal que voltaram à normalidade. O conjunto de fatores nos colocou no maior potencial de transmissão desde o início da pandemia. Este é o momento atual.”No início deste mês, a SES chegou a estimar que uma estabilização dos dados indicaria o pico das mortes por Covid-19 entre os dias 12 e 18 de julho. A expectativa seria de um platô da pandemia, levando em consideração a análise de mortes pela data de ocorrência. Por esta metodologia, a semana epidemiológica 29 (entre 12 e 18 de julho) teria apresentado mais mortes até então, com 269 óbitos pelo coronavírus. Na ocasião, especialistas afirmavam que poderia ser prematuro falar em platô. O pesquisador da UFG explica que o isolamento social, medidas de higiene como uso do álcool em gel e máscaras, por exemplo, já fizeram Goiás chegar a um R em torno de 1. Desta forma, cada contaminado levaria o vírus para mais uma pessoa. “O fechamento dos 14 dias iniciais de julho apontou R quase abaixo de 1. Agora, estamos em torno de 1,2 ou 1,3.”, diz Rangel. DefasagemSuperintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Goiânia, Yves Mauro Ternes diz que não é possível analisar os dados divulgados diariamente e que no geral muitos hospitais demoram para informar a ocorrência dos óbitos. Ele explica que uma portaria foi publicada obrigando a informação da morte em até 24 horas. Além disso, diz que um cruzamento do banco de dados e registros da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) foi intensificado nos últimos dias e que por isso, os números podem ter aumentado ainda mais. “Analisando por data da morte, estávamos chegando ao pico na semana (epidemiológica) 28 com estabilização do número de mortes.” A SES-GO afirmou, em nota, que alimentação e a atualização dos dados nos sistemas oficiais de notificação são de responsabilidade dos municípios e das unidades notificadoras e que “percebe-se a notificação tardia dessas mortes”. A pasta considera que o parâmetro mais adequado para avaliar a evolução da pandemia é verificar os dados por data de ocorrência. “Quando se avalia esse indicador percebe-se que não houve uma grande diferença na média de notificações”, pontua a secretaria.Na avaliação da SES, a curva de óbitos indica uma tendência de estabilização, mas frisou que uma análise mais precisa depende da pronta notificação de hospitais e dos municípios.-Imagem (1.2108487)