A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Regional Goiás (SBOT-GO) negou, por meio de nota de esclarecimento, que um residente em ortopedia do Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) tenha se recusado a usar equipamentos de proteção individual (EPIs). O caso veio à tona na última segunda-feira, após a equipe de enfermagem notificar a diretoria do hospital sobre a situação. Ele ainda não foi ouvido formalmente e está em isolamento após diagnóstico positivo para a Covid-19.De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), a equipe de enfermagem notificou a diretoria afirmando que havia na unidade um médico residente da ortopedia que não estava utilizando os EPIs ofertados. Ele teria sido orientado pela equipe e também passado por treinamento. A assessoria do Hugo disse que o profissional foi repreendido pela direção que, de imediato, instaurou um processo de apuração disciplinar a fim de investigar a questão.Nesta terça-feira (5), dois documentos foram publicados pelo Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) em defesa do profissional. O primeiro deles, uma nota de repúdio às matérias veiculadas pela imprensa, é assinado pela equipe de residência em ortopedia do Hugo. O segundo é uma nota de esclarecimento da SBOT-GO. Em ambos, a afirmação é de que ele se afastou do serviço no início dos sintomas, utilizava os EPIs disponíveis na unidade e custeou o teste do próprio bolso.“O residente iniciou os sintomas há cerca de três semanas e se afastou do serviço no mesmo dia permanecendo em isolamento familiar desde então. O mesmo que teve de custear o teste de Covid-19 coletado no seu próprio domicílio por laboratório externo, pois o Hugo não possuía os kits para a realização do exame. Após a confirmação da Covid-19, o restante da equipe da residência em ortopedia, que trabalhava junto pagou para realizar os testes porque o hospital não possuía os kits. Felizmente, todos os demais residentes de ortopedia vieram com exames negativos e voltaram às suas atividades em prol da sociedade goiana”, afirmam as duas notas.A nota da equipe de residência em ortopedia do Hugo afirma que “o residente trabalhava com os EPIs fornecidos pelo hospital e pode ter se contaminado por algum paciente ou qualquer outro funcionário, haja vista que, nem mesmo a própria instituição possuía os testes para exames de Covid na época em que ele se contaminou”. Diz ainda que desde o início dos sintomas o residente permaneceu afastado mesmo antes da confirmação do resultado.O nome do residente não foi divulgado por nenhuma das instituições, nem pela secretaria. Ele foi procurado, por meio da assessoria de imprensa do Simego, mas não houve resposta. A SES afirmou que ele está de atestado e afastado das funções. “Diante disso, ele ainda não foi ouvido para apresentar a sua defesa da notificação da conduta inadequada. A SES-GO ainda informa que não há falta de EPI em suas unidades e que providências adicionais estão sendo tomadas conforme cada caso”, diz a pasta, em nota.O Hugo salientou na última segunda-feira (4) que não admite tal comportamento e que, caso se comprove a denúncia, medidas devem ser tomadas a respeito. Disse ainda que instaurou um processo de apuração disciplinar a fim de apurar a questão, fornecendo amplo e irrestrito direito de defesa ao denunciado.Preceptores se defendemA nota da SBOT-GO explica que os programas de residência médica em ortopedia e traumatologia são de ensino. Desta forma, os residentes estão supervisionados pelos profissionais especialistas. “Não corresponde à verdade e constitui ofensa ao médico residente e ao serviço de ortopedia do Hugo, incluindo todo seu corpo de preceptores. A preceptoria da residência de Ortopedia e Traumatologia do Hugo é constituída por ortopedistas reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, por seu desempenho científico, excelência em suas condutas éticas e profissionais e promoção do ensino e da pesquisa em ortopedia”, diz o documento.A Sociedade afirma ainda que os preceptores são membros titulares da SBOT e seguem, de forma rigorosa, todas as normas, cuidados e padrões de segurança perante a pandemia da Covid-19, se antecipando, muitas vezes, às diretrizes estabelecidas. Com isso, lamentou profundamente a situação, disse que as acusações são infundadas e que colocam em dúvida a competência da supervisão dos preceptores que teriam seguido corretamente as diretrizes do Ministério da Saúde (MS).RecomendaçõesEm nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) afirmou que, desde março, emite recomendações técnicas e divulga informações com orientações sobre a importância e a necessidade do uso de EPI por médicos e da adoção de medidas de prevenção à Covid-19, com a autoproteção e a proteção de profissionais e pacientes contra o novo coronavírus (Sars-Cov-2). Da mesma forma, segundo a entidade, as unidades de saúde também vêm sendo alertadas sobre a obrigatoriedade do fornecimento de EPIs, de uso obrigatório, aos profissionais.“O descumprimento das medidas protetivas e a recusa do uso de EPIs pelos médicos podem ser denunciados ao Cremego, que vai apurar a conduta ética dos profissionais”, diz o texto.