Mesmo pregando a união dos partidos da base da presidente Dilma Rousseff no Estado, o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), não esconde a intenção de ser candidato ao governo no ano que vem. Ele faz críticas à gestão de Marconi Perillo (PSDB) e diz que “falta credibilidade do governo junto ao povo”. A entrevista faz parte da série que o POPULAR abriu ontem – com José Batista Júnior (PMDB) –, com prováveis candidatos a governador no próximo ano. O cenário político hoje é propício para a oposição estruturar um projeto competitivo para disputar as eleições de 2014? Precisamos entender que o momento é muito importante. Os partidos que dão sustentação à presidente Dilma têm hoje a possibilidade de estar juntos em Goiás e construir um projeto para o Estado. Estamos num bom momento, as pesquisas que observamos mostram claramente a possibilidade de haver uma alternância de poder no Estado e também a desilusão do eleitor com relação ao governo atual. Além da força da presidente Dilma, com possibilidade muito grande de reeleição, vemos que o governo de Goiás perdeu seu brilho e a população está cansada deste projeto. É difícil ele (o governador Marconi Perillo) motivar, dar continuidade a um governo com tantos desgastes. Além disto, ele está com uma equipe completamente desmotivada, assim como os servidores públicos. Entendo que isso canaliza para fortalecer os partidos da presidente Dilma para construírem um projeto comum. O desafio é justamente fazer com que este grupo saia unido. Esta construção está sendo feita e se ela tiver o amadurecimento necessário, temos todas as condições de ter uma eleição vitoriosa. Dificulta o êxito da oposição se não houver esta união no primeiro turno e saírem vários candidatos? A estratégia é que a oposição possa estar unida. Os partidos que gravitam hoje em torno do atual governo do Estado obviamente estarão juntos. O desafio é fazer a oposição estar junta para fazer a diferença. O PMDB argumenta que por ter mais capilaridade que o restante das siglas de oposição não tem como abrirem mão de encabeçar a chapa ao governo. Como o PT vê isto? Todos nós da oposição queremos a mesma coisa: ganhar as eleições. E para isto é preciso ter humildade e a maturidade necessária para apresentar o que temos de melhor. As pesquisas estão aí para mostrar quem tem densidade eleitoral, quem tem capacidade de crescimento na eleição, capacidade de gestão e de aglutinar. São as características que um candidato precisar ter para ganhar. Seja do PT, do PMDB ou de qualquer outro partido do nosso grupo. A partir do momento que o PMDB lançou a pré-candidatura do José Batista Júnior (o Júnior do Friboi), o PT avançou na defesa do seu nome como candidato. O sr. vai trabalhar para ser o candidato? Primeiro é importante ressaltar que meu nome é colocado pela gestão que fazemos em Anápolis. Então em nenhum momento eu saí em qualquer município dizendo que sou candidato. Meu foco é na cidade de Anápolis. Mas também nunca vetou que aliados falassem em sua candidatura. Nunca vetei porque não fui colocado como pré-candidato. Meu nome é lembrado pelo PT para uma discussão dentro de um projeto coletivo. Meu foco, particularmente, continua sendo a administração em Anápolis. Tanto que nunca trabalhei buscando apoio em outras cidades e nem publicamente coloquei a pré-candidatura como sendo algo possível. Agora, dentro de um contexto em que meu nome é lembrado no partido, e o PT está trabalhando para unificar um pensamento para ter um bom projeto para 2014, se meu nome aglutina este grupo, não tenho dúvida que posso pensar nisto. Mas não vou em hipótese alguma entrar em aventura. Não vou ficar aqui debatendo ou disputando espaço internamente para no final nosso grupo sair divido. Tenho um mandato. O sr. acha que, dentro destas condições que coloca para ser candidato e tendo como base o cenário atual, são reais as chances de viabilizar sua candidatura? É importante afirmarmos que todos os partidos têm o direito de lançar candidatos. Cada um entra da forma que achar melhor. O PT, e eu particularmente, só entraria numa composição se esses grupos estivessem unificados e com um pensamento de ajudar também nosso projeto nacional. Não é uma questão pessoal minha. Meu nome é lembrado pelo PT em função do trabalho que tenho feito em Anápolis. Por que o PT tem resistência à candidatura do Júnior? Não existe resistência. A definição entre o Júnior e o Iris Rezende é do PMDB. O PT não entra nesta discussão. Mas até quando se falava mais na candidatura de Iris, o PT estava recolhido. Foi só o PMDB abrir espaço para a pré-candidatura de Júnior, o PT lançou seu nome. É que à medida que você tem nomes mais consolidados, tem condições de trabalhar para o afunilamento, que vai acontecer até março. Até porque já tem o entendimento entre os partidos da oposição de que este é o prazo para definir os nomes. Então cada partido vai colocar neste período as melhores opções para disputar o processo eleitoral de 2014. Estamos aguardando o nome do PMDB e em março vamos definir. Aquele que agregar mais, tiver maior densidade, obviamente é quem nós queremos para disputar as eleições com o atual governo. Não temos nenhuma pretensão de dizer que o PT é melhor que o PMDB ou escolher o candidato do PMDB, ou mesmo do PT. Pela densidade eleitoral, o histórico e o trânsito com os partidos, o sr. acredita que se for colocada a pré-candidatura de Iris pelo PMDB ainda sobra espaço para o PT pleitear a cabeça de chapa? Não tem impedimento. Entendo que o ex-governador Iris agrega pelo seu histórico, pelo que representa no Estado. Mas dentro daquilo que as pesquisas qualitativas apresentam, o que representa a mudança para o Estado de Goiás? É aí o perfil que nós estamos desenhando para que possamos chegar em um nome. Se o Iris for consenso e for trabalhado dentro desse entendimento, é esta a proposta de afunilamento que nós queremos. Na posse do novo diretório estadual do PT, o sr. chegou a dizer que a população não queria mais aquela mesma disputa que houve em 2010. O sr. então acha que é fundamental a oposição apresentar um candidato novo? Vocês mesmo publicaram uma pesquisa Serpes que mostra claramente que 68% dos entrevistados querem que venha coisa nova. Então nós também entendemos desta forma. Dentro da prefeitura, percebemos que se não dialogarmos, não nos aproximarmos cada vez mais do cidadão, não apresentarmos projetos, só o nome e o discurso não bastam. As pessoas não querem ver discurso na boca de gestor, querem ver resultado. O eleitor quer ver uma chapa no ano que vem que possa fazer o Estado voltar a brilhar. O governo hoje está ofuscado, com secretários e servidores desmotivados. O governo atual perdeu muito tempo. A força que ele tem hoje é muito mais de marketing do que propriamente de uma equipe planejada e motivada. Então o desafio da oposição é apresentar não só um nome, mas um bom projeto, mostrando ao eleitor goiano que se trata de um caminho melhor. Sua gestão é bem avaliada em Anápolis, mas o sr. não é um nome muito conhecido no restante do Estado. Isto não atrapalha pleitear já em 2014 uma candidatura majoritária? Eu vivi muito isto em Anápolis. Fui candidato a prefeito em 2008 e tinha só 3% das intenções de voto. Tinha candidato na época com 30%. O que entendi é que na medida que você é bem avaliado onde é conhecido, já é um bom sinal para levar esta imagem onde não é conhecido. O duro é o contrário, quando a gestor teve a oportunidade de ficar um bom tempo no governo e é mal avaliado por aqueles que o conhecem. Porque aí dificulta muito conquistar os outros durante a campanha. Então estamos numa situação confortável, são cinco anos de um governo bem avaliado. Acredita que é sua avaliação positiva que faz seu nome ser considerado pelo PT? Sim. Sempre trabalhei com foco em Anápolis e entendo que meu nome só é lembrado pelo que estamos realizando e pela boa avaliação da gestão. Neste caso, o prefeito Paulo Garcia seria também uma possibilidade de candidatura do PT? Se ele e sua gestão estiverem bem avaliados no ano que vem, acho que pode ser uma opção sim. O sr. acha que a gestão dele é bem avaliada hoje? As pesquisas mostram que não. Mas tudo é momento, pode ser que no ano que vem ele esteja melhor avaliado e, por ser um prefeito de capital, possa nos representar dentro deste trabalho coletivo. A oposição administra hoje os três maiores municípios do Estado e estas gestões, naturalmente, são uma espécie de vitrine eleitoral, principalmente Goiânia. A má avaliação da gestão petista na capital não é um empecilho para o candidato da oposição, especialmente se for do PT? Vejo que as gestões de vários partidos, tanto ligadas ao governo quanto à oposição, enfrentam este problema. As crises que ocorreram em 2013 é que determinaram às vezes a queda da aprovação dos governos federal, estadual e nos municípios. Numa eleição ao governo estadual, o município é uma referência muito positiva e entendo que pode dar uma contribuição enorme pela satisfação das pessoas de perceber que a cidade está dando certo. Mas daí a utilizar apenas isto como balizador para determinar uma candidatura tem uma certa distância. Outros critérios também precisam ser levados em consideração. Qual será a influência dos diretórios nacional do PT e PMDB, e do Palácio do Planalto, na formação da chapa em Goiás? Desde que tenha um bom palanque para a presidente Dilma, saindo juntos ou separados, não tem objeção do Palácio do Planalto e dos partidos em nível nacional. Eles querem que montemos um palanque realmente condizente com a campanha da presidente Dilma e ela quer ganhar em Goiás. Mas a falta de unidade da oposição, além da dificuldade de criticar o governo, parece tão evidente que tem sido explorada até pela base do governador. O que vemos hoje é uma insatisfação muito grande da população goiana em relação ao governo, não é em relação à oposição. A população está muito ciente da falta de governabilidade dos últimos três anos e do esforço para tentar recuperar a imagem neste momento final, somada à desagregação da equipe. Se a oposição foi fraca, não cumpriu seu papel, não tenha dúvida de que não passou desapercebido pelo cidadão tudo isto que aconteceu com o governo. A falta de credibilidade do governo junto ao povo é muito grande. O PMDB reclama muito que na campanha de 2010 o sr. não teria ajudado Iris em Anápolis, onde ele teve baixa votação. Isto não dificulta a possibilidade do PMDB apoiar uma candidatura sua? Não, porque o próprio Iris sabe que não é verdade. Tenho certeza que se você perguntar, ele vai dizer que não teve isto. O que dificulta o PMDB em Anápolis não é o PT, não é nossa gestão. Quem coordenou para o PMDB a campanha de 2010 no município foi o presidente do partido em Anápolis, Adhemar Santillo, que hoje está no PSDB. Então naquela eleição mesmo, no segundo turno, o presidente do PMDB já estava apoiando a candidatura de Marconi Perillo. Cumprimos nosso papel nas eleições para que pudéssemos buscar o apoio necessário para que ele (Iris) fosse eleito. Algumas pessoas dizem que a relação próxima que o sr. mantém com o governador hoje pode dificultar uma polarização entre vocês dois numa eleição. O sr. acredita que precisaria haver um reposicionamento da sua parte? Vejo que são coisas diferentes. Ninguém discute que estaremos em projetos diferentes em 2014. Mas nem por isto precisamos ser mal educados ou fazer alguma ação ostensiva um contra o outro. A população entende muito bem esta boa relação administrativa. O sr. vê como uma movimentação política a série de ações que o governador tem feito na cidade? É uma ação política, mas acho que o governador está no papel dele de mostrar o que tem feito. Mas tem os problemas também. O caso da plataforma multimodal, por exemplo. Ela é decantada desde 2000, já era prevista no primeiro plano de governo de Marconi e até hoje praticamente não saiu do papel. Foi inaugurada com uma estrutura numa área de mais de 130 alqueires dentro do Distrito Agro-Industrial, o que significa que nesses 13 anos esta área ficou ociosa. Tudo isto faz com que a gente possa não só sentir que tem ações positivas, mas que muitas vezes as promessas não foram colocadas em prática. O que acha da declaração do presidente da Agetop, Jayme Rincón, que disse recentemente que grande parte da sua boa avaliação vem dos investimentos do governo estadual? Sim, eles investem em Anápolis porque colhem bons frutos. O governo não iria salgar carne podre. E nós agradecemos. Mas isto também mostra que ele (Jayme) não conhece bem Anápolis. O discurso não pode substituir as competências. As negociações da Celg, por exemplo, não podem amedrontar os investidores. A falta de segurança pública é hoje sentida por todos. A questão é que o município faz a sua parte e o Estado precisa fazer a dele. Agora pega uma pesquisa lá para saber se o povo está contente é com a administração estadual ou com a municipal (risos). Pessoalmente, se sente motivado para disputar o governo? Eu digo que se nosso nome for lembrado nesse trabalho coletivo para representar este grupo, eu estou motivado. Me coloquei à disposição do partido e estou aguardando a decisão do PT e o resultado das conversações com as outras siglas para dar o próximo passo. Temos que ter um acordo político estratégico para ganhar o governo de Goiás, seja juntos ou separados no primeiro turno.-Imagem (Image_1.450256)-Imagem (Image_1.450254)-Imagem (Image_1.450255)