Confiando no ajuste promovido nas contas do Estado, o governador Marconi Perillo (PSDB) espera diminuição de mais de R$ 2 bilhões nos gastos da máquina pública este ano. Em entrevista exclusiva à editora-chefe do POPULAR, Cileide Alves, concedida no domingo em Paris, o tucano falou também da meta de prestar melhores serviços para a sociedade, da relação com os aliados e da renegociação da dívida fiscal do Grupo JBS. Qual sua perspectiva para o quarto mandato? O que é possível fazer agora que não fez nos anteriores?Concluir as obras e as melhorias que começamos em várias áreas do governo, aprimorar o que precisa ser aprimorado e deu certo e corrigir as falhas que ainda existem. Neste final de governo e início vivemos uma falha do Detran. A orientação que dei aos diretores é que em poucos meses isso esteja resolvido. Queremos no serviço público o que conseguimos fazer no Vapt Vupt, o que estamos fazendo nos hospitais, através das OSs. Nós conseguimos avançar na área de educação, estamos trabalhando também na segurança pública, especialmente agora com a inauguração da Central de Monitoramento. A grande preocupação será melhorar a prestação de serviços para a sociedade. Quero cada vez mais essa prestação de serviços avançando para outras áreas que precisam de mudanças importantes. Além disso manter as estradas em bom estado de conservação. Olhando para os três mandatos anteriores, tem alguma coisa que o sr. fez e que não faria no quarto mandato?São épocas distintas, especialmente pelos avanços que obtivemos na tecnologia. Diria que a vantagem desse amadurecimento é que me sinto mais comprometido com o que faço e cada vez mais aberto a receber opiniões das pessoas que querem a realização de um bom governo em Goiás. Tenho conversado muito com vários segmentos da sociedade e estou focado no equilíbrio financeiro e fiscal do governo e em realmente conseguir bons resultados com uma gestão mais enxuta. Inchar o Estado é uma das coisas que não faria de novo?Quando assumi, o Estado já era inchado, já tinha muitos cargos comissionados. No primeiro governo fiz uma reforma grande e depois com o tempo e com as necessidades que foram aparecendo e até mesmo pelas solicitações da equipe acabamos fazendo com o que o Estado voltasse a ser o que ele era quando fiz a reforma no primeiro governo. Há dois anos fiz uma reforma menor e agora fizemos uma maior e que tive a coragem de enxugar bastante. O sr. dizia que o terceiro mandato seria o melhor governo da vida dos goianos. A pesquisa Serpes divulgada nas eleições mostra que o sr. terminou com aprovação de cerca de menos de 50% da população goiana. Não foi o melhor governo da vida dos goianos?Acho que foi disparado o melhor dos governos que realizei. Com as mudanças que tivemos no mundo e com a velocidade da informação através das redes todo mundo coloca sua opinião a respeito de tudo, pode ser que eu não tenha conseguido me comunicar como deveria, mostrando onde avançamos mais. Quem vai a um hospital percebe que mudamos muito. Na educação também avançamos muito, tanto que conseguimos bons índices no Ideb. Não tenho dúvida de que conseguimos bons índices na segurança, mas a população tem uma percepção que segurança é ruim no Brasil inteiro, e também a questão do medo. As obras de infraestrutura, que o sr. destaca como marcas do terceiro governo, à exceção das estradas, não foram concluídas. Isso não contribuiu para que aquele governo não fosse o melhor?Não. As pessoas viram o trabalho que foi realizado e na verdade conseguimos iniciar pra valer as obras na metade dos segundo ano. O primeiro ano foi o de organizar o Estado, o segundo ano foi o da crise política com a CPI do Cachoeira e me vi envolvido durante o ano nessa crise, mas tive tempo de trabalhar os projetos, de ir atrás de recursos em fundos, vinculações constitucionais, como de operações de crédito. Mas foi em 2013 e 2014 que tivemos como deslanchar os projetos. Até hoje estamos fazendo licitações, porque os projetos foram ficando defasados com o tempo. Qual a tranquilidade que tenho agora? Todos os projetos estão prontos, muitas obras estão avançadas. Este ano vamos inaugurar muitas obras com recursos de operação de crédito do BNDES. Uma decisão que tomei é que só vamos começar neste governo obras cujos projetos estejam prontos até 31 de dezembro deste ano. Dei essa determinação a toda a equipe. Projeto que chegar no ano que vem não terá orçamento nem dinheiro. O Brasil inteiro vive uma crise fiscal e financeira com queda de receitas, por conta de reduções involuntárias. O ministro da Fazenda anunciou uma série de medidas de contenção de despesas para reduzir o déficit e isso tudo reflete nos Estados. Todos os governadores estão fazendo enxugamento. Nós estamos entre os Estados com maior volume de diminuição de despesas correntes. O sr. não tem esse número de quanto o Estado terá de economia com os cortes que fez?Teremos mais cortes ainda e contenções. Creio que não será inferior a R$ 2 bilhões. Nossa equipe está fazendo um trabalho muito focado, em conjunto, e em pouco tempo terei esses números, mas imagino que os cortes e ajustes significarão bem mais de R$ 2 bilhões. O Estado entrou o ano com um déficit de R$ 1,3 bilhão, quase o dobro que no ano anterior. Por que isso aconteceu?Primeiro por conta de uma pressão muito forte por aumentos na folha de pagamento. Todos acompanharam os movimentos que tiveram por aumentos salariais. Eles pediram um aumento bem alto e demos bem menos do que pediram. Esses reajuste representaram R$ 1 bilhão na folha. A população exige os serviços e o Estado tem de se virar para garantir esses serviços. Por isso tivemos o déficit. Fechamos com um déficit menor, de R$ 600 milhões, agora quando inclui os restos a pagar esse número fica maior. O que de fato o sr. vai cortar?Nós temos um orçamento mais geral. Fazemos um ajuste na Lei do Orçamento (LOA), ajustando a realidade financeira, ou seja, vamos definir uma cota para cada secretária e estamos batizando de orçamento real. Se temos R$ 700 millhões, vamos distribuir esse valor nas secretarias, fora o que é vinculado, e elas terão de se ajustar internamente para gastar esse dinheiro. Existe o risco de o Estado não conseguir pagar as contas, como é o caso de salários, por exemplo?Esta possibilidade está afastada. Estamos definindo cotas e os secretários terão de fazer um rigoroso planejamento para conseguir fazer a manutenção e algum investimento com os recursos que serão destinados a eles. Esta é uma definição que estamos tomando, a secretária da Fazenda (Ana Carla Abrão) e o secretário de Planejamento (Thiago Peixoto) estão encaminhando, por determinação do governador, a cada secretário estas informações, explicando os motivos desta decisão e como é que isto vai funcionar. O Estado não pode mais pegar empréstimo?Pode. Pelo que estamos vendo, o governo federal mudará a política que vigorou até agora e isto, certamente, irá limitar esta possibilidade.Nosso programa foi aprovado no ano passado e estamos trabalhando para que neste ano também seja aprovado. Os Estados podem tomar emprestado até 16% da sua receita. Nós temos já pré-acertado para os dois primeiros anos agora mais ou menos R$ 2,5 bilhões em crédito. É claro que estamos trabalhando com este cenário novo, em que o ministro (da Fazenda, Joaquim Levy) cortou tudo por conta do déficit de R$ 17 bilhões nas contas do governo federal. No nosso caso, a trajetória de endividamento do Estado é muito favorável a médio prazo. Temos o comprometimento de 21% de receita com o pagamento da dívida externa. O sr. falou que esse vai ser o governo da prestação de serviço. O que é, na sua opinião, prestar um serviço diferente para a população?Primeiro, na saúde, ter hospitais bem equipados, funcionando bem, com bom atendimento, prestando serviço às pessoas que procuram a saúde. O Vapt Vupt é um outro prestador de serviço. Apesar de uma ou outra falha aqui e ali, a avaliação dos serviços dos Vapt Vupts é muito boa. O PSDB tem dado alguns sinais de que poderia defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff. FHC sugeriu isso em um artigo. Se for para discutir isso no PSDB, o sr. defenderia o impeachment da presidente?A presidente acabou de ser eleita agora, democraticamente. Trabalhei para o Aécio (Neves), ele teve uma grande votação em Goiás, mas ele perdeu, nós perdemos. Acho que a Dilma precisa ter condições de governabilidade, precisa tomar muitas medidas que só ela pode tomar, mas ela tem o direito a governar. Ela ganhou. Salvo se alguma prova contundente de envolvimento dela ou do governo dela em alguma coisa for trazida à tona. Aí é uma questão não só de partidos de oposição, mas também a própria sociedade civil exigiria uma providência mais radical. Agora, é claro, o PSDB está na oposição e tem o direito de se manifestar. O sr. está enfrentando dificuldades na composição do governo com aliados. Como é que vai administrar essa insatisfação política que hoje está dentro da sua base?Sempre compreendi a administração tendo dois pilares fundamentais: gestão administrativa e gestão política. Acho que ao longo do tempo eu provei ser competente na gestão política. Procurei também ser competente na gestão administrativa. Mas na minha opinião são duas coisas indissociáveis. Se você for um ótimo gestor administrativo e não for um bom gestor político, você compromete o governo e vice-versa. Agora, nós tivemos alguns ruídos na formação da equipe porque o Estado tem um outro tamanho. A estrutura básica da administração ficou bem menor e o nível de exigência aumentou. Antes tinha as minhas cotas pessoais, que eu indicava pessoas da minha confiança. Essa cota aumentou muito agora. Isso não significa que os aliados não tenham vez agora. Vários indicaram superintendentes, diretores e outras funções na administração pública, mas o espaço ficou menor. Mas tem deputados estadual e federal e tem ex-secretários, como é o caso do Antonio Faleiros, que estão muito contrariados. O sr. acha que vai conseguir contornar essa contrariedade ou vai perder essas pessoas?Sempre faço o possível para contornar. Vou fazer o possível para manter essa estrutura política junto comigo. Agora, vou ao meu limite. Se não der, não deu. As pessoas que às vezes reclamam são pessoas que já me ajudaram muito, mas que foram muito ajudadas, foram muito prestigiadas. O doutor Faleiros, por exemplo, foi um excelente secretário de Saúde, mas ele teve o meu apoio, a minha cobertura total. O sr. não teme uma crise política?Não temo. Se estivesse fazendo um mau governo, tudo bem. Mas se estiver fazendo um bom governo não há nenhuma possibilidade de crise. Tenho sempre uma agenda flexível para receber parlamentares, prefeitos, os representantes da sociedade civil. A gente ouve de alguns aliados contrariados que o sr., por estar no quarto mandato, se sente seguro e estaria dando as costas para eles. Como é que o sr. ouve isso?Se há esse tipo de comentário, é de uma injustiça muito grande. Todos ou foram ou serão atendidos, estão ou participarão do governo. Dificilmente eu deixaria de ser candidato a alguma coisa. E a minha relação, independentemente de ser ou não candidato, é de gratidão. O Jayme Rincón é visto no meio político como seu braço-direito e pessoa mais forte no governo. Ele é o seu candidato a prefeito de Goiânia?O Jayme Rincón é muito ligado a mim mesmo. Não era no passado. Ele não votou em mim em duas eleições para governador. Nós nos aproximados há dez anos. Ele se faz respeitar hoje primeiro porque tem coragem de me defender e defender o governo, porque ele acredita e defende com unhas e dentes. Se nós conseguimos realizar muita coisa na área de infraestrutura foi porque o Jayme montou uma boa equipe na área de licitação, na área de fiscalização, correu atrás, fez bons projetos, agilizou, quebrou a burocracia e está me ajudando a entregar as coisas. Ele está fazendo uma boa gestão na Agetop, por isso ele acha que tem o direito de postular a indicação para prefeito. Como é que o sr. enxerga a oposição hoje em Goiás?É preciso respeitá-la, até porque o contraditório é fundamental para a democracia. A oposição critica a lei que beneficiou a JBS. Essa lei foi fruto de um acordo político com a família do Júnior (Friboi) e teve relação com o apoio que ele deu no segundo turno?Jamais. Fui informado pelo doutor Taveira, que era o secretário de Fazenda, de que nós estávamos abrindo um espaço novo nessa lei do Regulariza porque ele tinha sido procurado por alguns empresários, dentre eles do Grupo JBS, interessados em, finalmente, pagar o que nos devia. Felizmente nessa eleição nem dinheiro para minha campanha o JBS deu. Não o Júnior, porque o Júnior está desligado do grupo, mas os acionistas queriam fazer uma negociação e disse que eu não entraria nisso por essa razão, e também porque achei melhor não receber doação deles depois que o Júnior declarou pela internet que me apoiaria. Fui informado na véspera de assinar o projeto de lei que ampliou o Regulariza. Nós recebemos de quase mil empresas. Tem mais de dois anos que não vejo pessoalmente o Júnior Friboi. Falei com o Júnior duas vezes por telefone nesse período de mais de dois anos. Mas o sr. teve reunião com os irmãos dele em São Paulo depois das eleições.Não. Tive antes para pedir ajuda para a campanha eleitoral. Bem antes. Eles disseram: “Nós temos uma dificuldade de relacionamento com o governo de Goiás, não temos com outros, mas as coisas nossas não avançaram no sentido de um entendimento para que as dívidas do JBS fossem pagas”. E aí, como disse: “Eu não vou fazer nada que não seja na lei”. Mas 86% do que se arrecadou foi da JBS.A primeira proposta que o grupo JBS me fez há três anos e meio foi de pagar a dívida que eles tinham, sendo que a maior parte disso veio da compra do frigorífico Bertin por R$ 40 milhões. Eles achavam que só deviam R$ 40 milhões. Chamei a equipe técnica da Secretaria da Fazenda e conseguimos provar que eles deviam um número muito maior e eles conseguiram pagar o principal, que era cerca de R$ 330 milhões. É um grupo grande, mas que devia já há muito tempo. Nós queríamos receber e conseguimos. Mesmo que sejam R$ 350 milhões, por uma dívida de R$ 1,5 bilhão é justo?É menos do que isso, com juros e correção. Mas foi feito para todos. Não foi feito só para eles. Muitas empresas que estão à beira da falência voltam por conta desses projetos que são feitos, senão simplesmente você mata a empresa e ela deixa de gerar emprego, deixa de gerar economia. Essa lei não foi feita só para o JBS, foi feita para todos.