Vida de jogador de time grande se resume a baladas, carrões, belas mulheres e bebidas. Para alguns, até pode ser, mas para outros, as coisas são bem diferentes. Quem vê a regularidade e imponência com que o zagueiro Vinícius Simon domina o setor esquerdo da zaga do Vila Nova, a menos vazada da Série C do Brasileiro (14 gols sofridos em 21 jogos) não imagina o drama que ele viveu em 2014. “Eu estava praticamente morto para o futebol em 2014. O Vila e o Márcio (Fernandes, técnico) me acolheram. O Vila Nova me ressuscitou. Sou muito grato aos dois por isso”, desabafa.Simon, de 28 anos e 1,84 metro, chegou ao Santos em 2001, ainda com 13 anos. Ele dividiu o gramado com craques como Robinho, Diego, Paulo Henrique Ganso e Neymar, sempre aguardando uma oportunidade de substituir os experientes Durval e Edu Dracena, titulares do Peixe de 2010 a 2013.Mas uma seringa e uma agulha quase destruíram a carreira de Simon. Nada de drogas ou algo do gênero. Na reta final da Série B de 2013, jogando pelo Sport, Simon sentia dores no joelho, mas aceitou receber infiltração – injeção de medicamento no local inflamado, geralmente em articulações, para aliviar a dor – para jogar.Em 2014, quando receberia chance no time titular, Simon sofreu uma ruptura de um dos tendões do joelho esquerdo – o mesmo que recebeu infiltrações – no último treino para o segundo jogo da temporada, pelo Paulistão. Foram cinco meses de recuperação e mais um para recuperar a forma para atuar.Recuperado, o jogador chegou a acertar seu empréstimo para o Goiás, em julho de 2014, mas Oswaldo de Oliveira, então treinador do Santos, vetou a saída de Simon, pois daria a ele a tão esperada chance no time titular. Mas a alegria de Simon durou 23 minutos. Em seu primeiro jogo, diante do Londrina (PR), fora de casa, pela Copa do Brasil, ele pisou em um buraco e sofreu nova lesão, que o tirou de combate pelo resto do ano.Aos 27 anos (hoje tem 28), Simon chegou a pensar que seria o fim de sua carreira. “O ano tinha acabado para mim. Com duas filhas e esposa para sustentar, o contrato acabando e sem renovação, o telefone não tocava (com propostas de trabalho). Fiquei muito abalado, revoltado e desesperado”, revela.A LIGAÇÃOFoi então que, finalmente, o telefone tocou. “Pedi muito a Deus que nos ajudasse e apareceu o Márcio”, lembra Simon, se referindo a Márcio Fernandes, atual técnico do Vila e que o treinou na base do Santos, inclusive, sendo responsável, na época, por recuar o volante para a zaga. Autorizado pela diretoria do Vila, Márcio ligou para Simon e o convidou para jogar no colorado.O zagueiro chegou ao clube em março, sob desconfiança até dele mesmo. Na época, surgiu a informação de que o jogador ainda tinha contrato com o Santos, que estaria pagando seu salário de cerca de R$ 90 mil mensais. “Eu não sabia a minha real situação em condições de jogo. Meu contrato com o Santos tinha acabado em dezembro. Vim para o Vila de graça, sem receber nada. Praticamente paguei para jogar, pois eu arquei com minhas despesas”, revela. “Aos poucos, fui pegando confiança até ter uma sequência boa de jogos. Para a Série C, o Vila me deu uma ajuda de custo”, completa.Simon comemora sua redenção para o futebol e seu ano perfeito tecnicamente e praticamente sem ir ao departamento médico. É, ele se esqueceu de citar os dois dias internado, em observação, após sofrer uma joelhada de Paulinho, da Portuguesa, no primeiro jogo das quartas de final, no Serra Dourada. Ele não se lembra de muita coisa, mas, ainda na ambulância, ficava perguntando se o Vila estava vencendo o jogo.Recuperado, Simon jogou contra a Lusa, no Canindé, e quase fez um gol. Entre os titulares, apenas ele e o goleiro Edson não balançaram a rede dos adversários neste ano, o que gera até algumas brincadeiras entre os colegas. O zagueiro justifica, dizendo que está guardando a cereja do bolo para o final. “Quem sabe não sai o primeiro gol com a camisa do Vila no próximo jogo (segunda-feira, contra o Brasil, de Pelotas/RS, no Serra Dourada) ou na final.”Ontem, o elenco se reapresentou e iniciou a preparação para enfrentar o Brasil (RS). O time terá o retorno de Frontini, que cumpriu suspensão.