Toronto – Felipe Wu conquistou ontem a medalha de ouro na pistola de ar de 10 metros com um desempenho digno de campeão mundial. A marca ao final da campanha que o levou ao topo do pódio, de 201.8 pontos, além de novo recorde dos Jogos Pan-Americanos, seria suficiente para conquistar o título mundial da prova em 2014. “Esse título mostra que há chance de eu ganhar medalha em Mundial. Eu preciso acreditar em mim, mais e mais a cada dia”, afirmou Wu.Com o triunfo, ele garantiu uma vaga para o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio, a primeira da modalidade obtida em competição. Mais que opção, a crença em si virou necessidade. Felipe passa por sacrifícios para dar continuidade à sua carreira no tiro esportivo. Sem patrocínio, ele conta com a ajuda direta do pai, Paulo Wu, para se manter no esporte.“Ganho R$ 1.800 de Bolsa Atleta e pertenço ao Exército, que me ajuda financeiramente também. Mas isso não paga nada, nem a munição”, afirmou o atirador, que foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude de Cingapura, em 2010. “Na verdade, eu nem tenho dinheiro para comprar equipamento para treinar todos os dias. Eu faço um malabarismo”, considerou.O malabarismo passa por montar um estande de tiro no quintal de sua casa em São Paulo – onde precisa colocar o alvo a uma distância inferior à necessária, de apenas sete metros – para reduzir custos. E também por viajar quatro vezes por mês para Curitiba, onde mora a namorada e também atiradora Rosane Ewald. Lá, Felipe tem direito a utilizar as estruturas de um clube de campo. Os custos saem do próprio bolso. “Saio na sexta-feira à noite e volto na madrugada de segunda. Chego em São Paulo às 5 horas da manhã e às 8 horas já tenho aula na faculdade.”Para economizar, ele faz a viagem todos os finais de semana de ônibus. “O tiro é muito caro e é difícil conseguir patrocínio no Brasil porque as pessoas não o veem muito bem”, explicou o atirador. Na medida do possível, ele e Rosane, que compete hoje no rifle de 10 metros, se apoiam para seguir disputando as competições.Ontem, o esforço foi recompensado. Além do ouro no Pan, Felipe fez a melhor marca da história da competição. “Acho que é um recorde difícil de ser batido”, avaliou Ricardo Brenck, diretor técnico de carabina e pistola da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). O desempenho de Wu, porém, era esperado, segundo Branck. Felipe saiu satisfeito com o ouro, o segundo do Brasil em Toronto – o primeiro foi de Erika Miranda, no judô.