Com a escassez de dinheiro no mercado, a possibilidade de descolar uma grana extra vendendo milhas que estão prestes a expirar ou comprar pontuações de terceiros pagando um preço menor que na passagem aérea pode ser uma alternativa de bom negócio, certo? Errado. O mercado paralelo de vendas de milhas é uma prática ilegal e arriscada. Esse é o alerta da Proteste Associação dos Consumidores e do Procon-GO.Segundo as entidades de defesa do consumidor, as revendas de milhas ferem o contrato de adesão dos programas de fidelidade, que pregam que os resgates são intransferíveis e de uso pessoal. Inclusive, o usuário que revende as milhas corre o risco de ser excluído do programa.Mesmo assim, sites e até anúncios em muros e cartazes espalhados por Goiânia oferecem o negócio. Nelson Araújo anuncia a compra de milhas nas ruas da capital. À reportagem, ele explicou como funciona o sistema de compra das pontuações. Ele paga R$ 250 a cada 10 mil pontos, que são revendidos por R$ 350. “Compro para uso pessoal já que tenho muitos negócios fora”, justifica.Ele conta que acompanha o usuário interessado em vender as milhas até a loja da companhia aérea, onde é feita a transferência da pontuação necessária para a compra da passagem aérea. Caso o usuário possua 50 mil milhas, por exemplo, e o comprador precisar somente de 10 mil, ele recolhe os dados pessoais e a senha do programa fidelidade do usuário até que as 40 mil milhas restantes sejam utilizadas. “Depois que eu usar as milhas é só a pessoa trocar a senha. Não há problema algum”, explica.SitesO MaxMilhas faz a intermediação entre vendedores e compradores, cobrando comissão de 15%. Na prática, os usuários dos programas cadastram a oferta de milhas para venda e o valor cobrado. O interessado na oferta repassa seus dados para a emissão da passagem. O usuário que desejar realizar uma oferta de milhas precisa enviar um printscreen da tela do programa de fidelidade, comprovando a titularidade das milhas em seu nome e o saldo atual de pontos disponíveis.O usuário deverá informar ainda uma conta bancária, que deve ter a mesma titularidade do proprietário das milhas, para o pagamento. O cliente não é obrigado a ceder seus dados de acesso, pois ele mesmo recebe os dados da passagem a ser emitida para enviar o código de reserva ao comprador pelo sistema da plataforma. Mas podem ceder os dados para que a equipe da MaxMilhas emita as passagens. Segundo o site, 75% dos clientes adotam tal prática.Em nota, o site afirma que, embora não seja um mercado regulamentado, a comercialização de milhas é legal, uma vez que não existe nenhuma lei no País que proíba a sua venda.Outra site que compra milhas, o Hotmilhas comercializa os pontos com base nos preços negociados entre o site e os compradores. O número mínimo de milhas é 10 mil, que depois são revendidas para os clientes. Em média, o site compra 10 mil milhas por R$ 250. A reportagem entrou em contato com a empresa, que não retornou as ligações.FraudesDe acordo com a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, a fraude mais comum ocorre quando a senha para resgate de milhas é solicitada antes do depósito do valor vendido. Alternativa eficaz para não perder as milhas, diz, é pedir a prorrogação. A gerente de atendimento do Procon, Limari Ferreira, ressalta outro problema: a revenda de milhas não é considerada uma relação de consumo, já que ocorre num mercado paralelo. “Nesse caso, a pessoa prejudicada deve buscar a justiça comum”, orienta.