O anúncio da suspensão das atividades da Votorantim Metais, em Niquelândia, Região Norte do Estado, caiu como uma bomba sobre o município. A expectativa, segundo analistas, é que a paralisação dure dois anos, salvo forte reação do preço da commodity no mercado externo. Cerca de 2,5 mil trabalhadores serão atingidos direta e indiretamente – com possíveis desdobramentos em efeito cascata. Comércio, serviços e governo municipal já refazem as contas e estudam caminhos para atenuar o impacto.A queda paulatina do preço do níquel no mercado internacional nos últimos 18 meses foi o principal, mas não o único combustível para a tomada de decisão da empresa (veja quadro). Na opinião de representantes do setor, na outra ponta, a elevação dos custos operacionais no País, sobretudo a majoração de 51,4% do valor da energia elétrica, além da insegurança político-econômica deram mais gás à decisão. Em nota, a empresa afirmou que, apesar de ter estabelecido uma rigorosa gestão com foco na excelência operacional e otimização de custos, chegou-se ao consenso que as paralisações em Niquelândia e em São Paulo (outra unidade onde também terá a atividade paralisada) eram necessárias porque a análise de diversos cenários não demonstrou viabilidade econômica do minério de níquel no curto e médio prazo.A Votorantim contrata cerca de 800 funcionários diretos em Niquelândia. As demissões na unidade vão ocorrer em duas levas. A primeira, a partir do dia 1º de fevereiro, serão 220 funcionários que trabalham na lavra – setor de refinaria do níquel. Numa segunda etapa, a partir de maio, o restante.Com longa cadeia, a empresa também contrata, o mesmo montante de funcionários, de forma terceirizada. É esse efeito que deixa comércio, serviços e poder públicos à mercê. “Nos pegou de surpresa, sabíamos que isso ia acontecer num momento ou outro, mas por conta da falta do insumo, não por fator econômico. Inclusive, eles investiram fortemente no fim do ano passado”, explica o prefeito de Niquelândia, Luiz Teixeira Chaves.Para tapar o buraco que será deixado na arrecadação, Luiz Teixeira estuda fazer adequações como reduzir carga horária de trabalhadores e fechar alguns departamentos para diminuir a folha de pagamento.Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Niquelândia (Acin), Almir Pedroso da Silva, o setor da construção civil será um dos mais afetados, mas a suspensão da atividade gera um enfraquecimento de toda a cadeia produtiva do município. Compara ainda, os gastos da mineradora com o de uma família. “Eles fornecem cesta básica mensalmente aos funcionários, possuem clube recreativo o que representa queda em artigos esportivos, os serviços de informática vão encolher, entre outros. Não sabemos mensurar o tamanho desse dano, mas todo mundo vai sofrer”, ressalta.Proprietário de uma loja de ferragens fornecedora da Votorantim, Ronaldo Fernandes da Silva, explica que, as primeiras conversas que ventilam pelas ruas da cidade é de mudança. “A sensação é de pânico no quesito econômico, muitos funcionários da empresa já pensam em mudar da cidade”, explica.Ele afirma que deve adiar os planos em investir no agronegócio e critica a dependência do município. “Já tivemos chances de mudar de rota, mas o poder público nunca posicionou fortemente. O impacto seria bem menor hoje”, afirma.NotaDe acordo com o comunicado oficial da empresa, a decisão acontece após queda histórica no preço do metal. “Só em 2015, foi uma redução na ordem de 40% nos preços do níquel”, diz o documento. Em 2015, a empresa exportou até US$ 1 milhão só com a produção goiana.As atividades na mina serão suspensas já no dia 1º de fevereiro. O beneficiamento do mineral, e a refinaria, que acontece em São Miguel Paulista, em São Paulo, serão suspensos a partir de maio. Ainda segundo a nota, a Votorantim só manterá infraestrutura na cidade para cumprimento de atividades legais e compromissos socioambientais.A empresa considera retomar o negócio a longo prazo, com a melhora do cenário associada a “uma expressiva melhoria do preço do metal”.