Em tempos de aperto no orçamento, as famílias buscam alternativas para fazer o dinheiro render. Na tentativa de economizar, estão visitando mais os chamados “atacarejos”, estabelecimentos onde é possível comprar no atacado e no varejo. E se há alguns anos eles eram frequentados basicamente por pequenos comerciantes, hoje metade da clientela já é formada por consumidores de varejo.A crise se tornou um terreno fértil para a expansão do modelo. Só a rede Assaí cresceu 40% nos nove primeiros meses de 2016. Este ano, 15 lojas da bandeira Extra serão convertidas em Assaí. Uma delas é a do Jardim Europa, em Goiânia, que será a terceira na capital e a quarta no Estado (a outra está em Valparaíso). A loja da rede Bretas de Itumbiara, no Sul do Estado, ganhou o formato atacarejo e foi reinaugurada na última semana. Outras duas unidades do Bretas, em Minas Gerais, também passaram pela mudança.Os números motivam as transformações. Um levantamento da Nielsen mostra que, após uma queda de 12% na renda em 2016, as famílias passaram a frequentar mais atacarejos em busca de uma economia média de 20%. Outro estudo, da consultoria Quorum Brasil, aponta que, nos últimos dois anos, a fatia de consumidores que compram em atacadistas cresceu de 7% para 24%.PerfilPara o gerente regional do Assaí, Mauro Peixoto, a mudança das bandeiras é resultado de avaliações do perfil econômico da região, e características como a quantidade de pequenas mercearias e distribuidoras. Mas o aumento da presença de consumidores de varejo é que tem provocado mudanças nos atacarejos. “As lojas estão mais amplas, claras e com ar condicionado, proporcionando mais conforto”. O Assaí, por exemplo, aceita até cartão de crédito e cartão alimentação.Mauro lembra que este modelo de negócio também possui um sistema logístico eficiente de operações, que o torna mais competitivo. A compra em maior quantidade resulta em preços melhores e o estoque fica na própria loja, sem a necessidade de centros de distribuição.Na visão de Pablo Rios, diretor de Operações Regional Goiás do Bretas, num cenário de crise econômica as redes passam a pensar sob o ponto de vista do consumidor, que mudou hábitos de consumo e busca mais economia, para manter seu padrão de consumo. No atacarejo do Bretas o cliente pode economizar até 12% comprando a partir de três ou quatro unidades do mesmo produto. Como esse formato de loja tem custos menores, a economia é repassada ao consumidor. Outras lojas Bretas, inclusive em Goiânia, devem ganhar este formato. “Por enquanto, estamos em fase de estudos”, diz.Duas unidades da bandeira Carrefour, em Goiânia e Aparecida, já foram transformadas em atacarejo e ganharam a marca Atacadão nos anos de 2007 e 2010, respectivamente. Precursora deste formato, a rede garante que a mudança ocorreu por conta de sua estratégia multiformato. Portanto, não se trata de um movimento regular, como tem acontecido com outras companhias nos últimos anos, mas pontual.A opção é a preferida do professor e comerciante Helton Luciano Cabral, dono de um minimercado de hortifrutis. Ele conta que prefere comprar as bebidas para a loja nestes atacadistas, e aproveita para fazer as compras para sua casa. Além de pagar mais barato que nos caminhões de entrega das indústrias, que pressionam por compras maiores, ainda economiza em notas fiscais que podem tirá-lo do Simples, modelo que beneficia pequenas empresas. “A visita ao atacarejo se tornou um programa de fim de semana para as famílias”, diz.