Ontem, o entregador de frangos Márcio Ronny da Cruz, de 37 anos, que teve o corpo queimado ao tentar salvar duas crianças de dentro de um ônibus incendiado em São Luís (MA), deu os primeiros passos em Goiânia, desde a sua internação, no dia 8 de janeiro, para tratamento médico especializado. Segundo a irmã do maranhanse, a educadora Assunção da Cruz Nunes, de 47, ele caminhou sozinho, com a ajuda de aparelho ortopédico, e os dois ou três passos foram suficientes para levá-la às lágrimas.“Foi a segunda vez em que eu chorei muito; a primeira foi quando saímos juntos do hospital, na quinta-feira (dia 20), depois dos mais de 30 dias que ele ficou internado, em coma induzido”, conta Assunção, referindo-se à alta do irmão, do Pronto-Socorro para Queimados, na tarde do dia 20 passado. “Graças a Deus, Márcio deu uma melhorada boa, já fez um enxerto, e, agora, está na fase de curativos e fisioterapia.”Assunção e Márcio da Cruz ainda não têm previsão de retorno para o Maranhão. Os dois - e uma outra irmã do entregador de frangos que chegou à capital na semana passada - estão morando temporariamente, até o término do tratamento, em uma casa cedida por uma família da Igreja Batista, congregação da qual Assunção faz parte. Ela prefere manter o endereço em sigilo, para evitar a exposição da família. “A orientação foi para que tivéssemos maior privacidade e evitássemos a estadia em casa de apoio. Felizmente, conseguimos ajuda”, diz. De acordo com ela, outra recomendação - da psicóloga que acompanha Márcio - foi para que o irmão não soubesse da morte de uma das crianças - Ana Clara Santos Sousa, de 6 - que tentou salvar, quando teve 72% do corpo queimado.“Ele ainda não sabe que a menina morreu. Foi um pedido da psicóloga e estamos seguindo, mantendo essas informações em segredo. Toda vez que Márcio lembra dos fatos, em uma conversa com alguém, ele fala ‘que situação, mas ainda bem que as meninas se salvaram’. Acho que é melhor que não saiba mesmo, pelo menos por enquanto”, destaca Assunção. A vereadora e fisioterapeuta Cristina Lopes, chefe do Serviço de Fisioterapia e Reabilitação do Pronto-Socorro para Queimados e membro do corpo clínico do Hospital de Queimaduras de Goiânia, confirma a orientação da psicóloga. “Existe receio quanto à reação de Márcio, já que, quando ele conta a história, é sempre como se tivesse conseguido salvar aquelas duas crianças. Na cabeça dele, é assim: ‘estou sofrendo, mas salvei aquelas meninas’”, sublinha Cristina.-Imagem (Image_1.482614)