O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (Setransp) ameaçou tomar as suas próprias decisões, sem debate com a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC). A informação é do vice-presidente do Setransp, Décio Caetano, que informou ontem que a medida foi tomada devido ao que ele chamou de fim das reuniões por parte da CDTC. Com essa atitude, o usuário deve sentir ainda mais os problemas no transporte coletivo até o fim do ano. Os empresários do setor devem se reunir nesta semana para decidir ações que, na visão deles, deixem compatível o serviço ofertado ao valor arrecadado com as passagens. “O poder público parece ter tomado a posição de não conversar mais este ano, então vamos tomar nossas decisões. Sabemos que existe risco no que possamos fazer”, afirma Décio Caetano. As ações devem ter relação com corte de serviços básicos e até mesmo demissão de funcionários e redução da frota. De acordo com o contrato de concessão firmado em 2008, nas cláusulas 55ª e 56ª, a ameaça de interrupção dos serviços e o descumprimento dos padrões mínimos de qualidade operacional podem gerar a extinção do documento. Para os empresários, no entanto, o contrato já foi “rasgado pelas autoridades” quando o reajuste tarifário não foi cumprido, em maio deste ano, congelando a tarifa em R$ 2,70. Segundo Caetano, a medida de tomar decisões de acordo com a necessidade das empresas se deu após a marcação de duas reuniões ordinárias da CDTC que não ocorreram desde setembro, pela falta de quórum. Na ocasião seria discutido o fim do programa Ganha Tempo, instituído pela Prefeitura de Goiânia e que permite ao usuário viajar em até três ônibus em um período de 2h30 com uma passagem. Os empresários alegam que o programa causa déficit de até 8% mensal para as empresas, além do alegado prejuízo de 11% em decorrência da defasagem da tarifa. “Até então, sempre havia alguma reunião ou algum grupo que iria discutir uma solução, mas agora isso acabou e todos falam em se reunir apenas no ano que vem”, diz Caetano. O Setransp esteve reunido com o prefeito Paulo Garcia (PT) na manhã de sexta-feira e com o secretário estadual de Desenvolvimento da Região Metropolitana, Eduardo Zaratz. Ao POPULAR, Zaratz afirma que aguarda posicionamento do prefeito para que ocorra a reunião sobre o Ganha Tempo. “Marcamos duas vezes e ele não compareceu. É um programa da Prefeitura e ela deve se posicionar sobre”, alega. A reportagem tentou contato com o prefeito Paulo Garcia na tarde de ontem por telefone e via assessoria, mas não obteve resposta. Ainda segundo os empresários que participaram da reunião com Paulo Garcia, o prefeito teria dito que a impossibilidade de ter uma reunião parte de uma decisão de Zaratz e demais membros da CDTC depois que os empresários impetraram ação judicial no fim do mês passado para pedir o pagamento de subsídio. “A informação é que, como judicializamos a questão, não teria mais o que decidir”, diz Caetano. Viagens Embora tenham dito em julho que o sistema de transporte coletivo não sobreviveria até agosto, Caetano afirma que a situação só foi possível por renegociamento de dívidas bancárias referentes à aquisição da frota atual. “Mas na época o mercado também sabia que o poder público se movimentava para resolver o caso, agora nem isso”, afirma. O empresário diz ainda que a situação se agravou e algumas empresas, como a Viação Reunidas, não pagou o salário dos funcionários. “Temos o salário e a segunda parcela do 13º e estamos sem condições para pagar”, diz Caetano. O vice-presidente do Setransp confirma que o serviço neste último semestre sofreu ajustes. “Algumas viagens nos entrepicos e fins de semana foram retiradas com a anuência da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC).” A reportagem não conseguiu contato com a CMTC. PROBLEMAS Indefinições ocorrem desde as manifestações populares em junho MAIO - Reunião da Câmara Deliberativa define aumento da tarifa de R$ 2,70 para R$ 3 JUNHO - Prefeito Paulo Garcia e governador Marconi Perillo congelam a tarifa em R$ 2,70. Prefeitura lança o programa Ganha Tempo 11 DE JULHO - Empresas anunciam fim do serviço Citybus para conter custos, mas CDTC proíbe fim do serviço 16 DE JULHO - Setransp anuncia crise do transporte em reunião no Palácio das Esmeraldas. Grupo é formado para analisar caso AGOSTO - Empresas notificam CDTC e CMTC por solução da crise. Nota técnica é feita com as planilhas sobre suposto desequilíbrio do contrato de concessão SETEMBRO - Empresários pedem que poder público arque com gratuidades do transporte e o fim do programa Ganha Tempo OUTUBRO - CDTC marca reunião para decidir sobre Ganha Tempo, mas não há quórum NOVEMBRO - Nova reunião da CDTC sem quórum e empresas vão à Justiça por subsídio ao transporte público-Imagem (Image_1.439140)