“O setor imobiliário virou uma máquina de fazer dinheiro.” A frase, relatada por um amigo próximo, é de um homem acostumado a lidar com máquinas de fazer dinheiro. Um ano após deixar o presídio da Papuda, no Distrito Federal, no dia 21 de novembro, onde ficou preso por nove meses, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começa a se reestruturar como empresário, se rearticular politicamente e voltou a frequentar com desenvoltura bares e restaurantes de Goiânia, enquanto passa a maior parte do tempo focado em evitar seu maior pesadelo: voltar para a cadeia. O POPULAR conversou com funcionários, amigos e familiares de Cachoeira durante toda a semana passada para mostrar como está a vida do pivô do maior escândalo político de Goiás, deflagrado na Operação Monte Carlo, em fevereiro de 2012, que o colocou no centro de um esquema de cooptação de políticos e uma extensa rede de exploração de jogos ilegais. Cachoeira, que aguarda em liberdade julgamento do recurso da sentença de 39 anos, 8 meses e 10 dias de prisão pelos crimes de corrupção e formação de quadrilha, se recusou a falar com a reportagem, alegando que seguia orientações de seu advogado. Aceitou somente ser fotografado na tarde de ontem. A maioria dos amigos que aceitaram contar mais detalhes de sua vida pediu anonimato. Os relatos confirmam que ele voltou a ter influência no meio empresarial, com escritórios em Goiânia e Anápolis, com foco no setor imobiliário. Teria empreendimentos em Goiânia, Anápolis, Catalão. Ele procura áreas em Hidrolândia, onde pretende lançar um condomínio de chácaras. Na semana passada, olhou terrenos próximos da BR-153. Cachoeira investia no setor antes de ser preso, mas de forma mais tímida. Ninguém quis dizer quem seriam seus sócios, embora admitam que o réu não está só em suas empreitadas. O empresário evita se expor à frente dos negócios, algo que, devido à sua fama, poderia espantar potenciais clientes. Cautela que contradiz o que disse há exatamente um ano, em entrevista após deixar a Papuda, quando afirmou que os goianos ainda teriam orgulho dele. Quanto à exploração de jogos de azar, que lhe garantiu notoriedade nacional e os atuais embaraços judiciais, todos os amigos consultados pela reportagem garantem que ele deixou de vez o negócio. A polícia continua atenta a possíveis movimentações de seu grupo (leia reportagem nesta página). Política Ainda que sempre repita que tomou distância da política após o escândalo da Monte Carlo, reservadamente o empresário admite que deve atuar nos bastidores da disputa eleitoral do próximo ano. O ex-vereador Santana Gomes (PSD) e a ex-chefe de gabinete do governador Marconi Perillo (PSDB) Eliane Pinheiro, recém-filiada no PMN, pré-candidatos a deputado estadual, são dois com quem se comprometeu a ajudar. Eles apareceram nos grampos da Polícia Federal como aliados de Cachoeira. O deputado federal Carlos Alberto Lereia (PSDB), chamuscado pela estreita ligação com o empresário, desistiu de tentar a reeleição e deve pleitear uma vaga na Assembleia com o apoio do amigo. Lereia nunca escondeu a amizade com Cachoeira, que sempre frisa a pessoas próximas sua gratidão ao tucano. O sobrinho Fernando Cunha Neto (PSDB), vereador em Anápolis, deve se candidatar a deputado estadual. Cachoeira, na entanto, vetou a possibilidade da mulher, Andressa Mendonça, concorrer a algum cargo eletivo, hipótese que surgiu no meio político após ela filiar-se ao PSL há alguns meses, com as bênçãos dos vereadores Zander Fábio e Antônio Uchôa, ambos do PSL. Possivelmente o político mais próximo de Cachoeira no período pré-Monte Carlo, o ex-senador Demóstenes Torres, não faria mais parte do círculo de amizades de Cachoeira. Pessoas próximas contam que o contraventor costuma usar palavras não muito elegantes ao falar do antigo aliado. “É de covarde para baixo”, conta um amigo. O motivo exato do suposto rompimento não foi revelado - citam genericamente a falta de apoio de Demóstenes durante o auge do escândalo - e teria ocorrido poucos meses após a saída da prisão. No caso do ex-prefeito de Nerópolis Gil Tavares, que também era próximo de Cachoeira, a briga foi pública. Poucas semanas após ser solto, o empresário cruzou com Tavares no Shopping Flamboyant e, ao ser cumprimentado, descarregou alguns palavrões contra o ex-aliado. O motivo seria que Cachoeira e família se sentiram abandonados por ele.-Imagem (Image_1.432040)