Maria Auxiliadora dos Santos é aposentada e tem 89 anos. Ela chegou a ser lavadeira de dona Gercina Borges Teixeira, esposa do fundador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira. Ela ainda se recorda do desenvolvimento da capital e conta que os trabalhadores que participaram da construção da cidade ocuparam os arredores do Córrego Botafogo. Foi nessa região que ela recebeu a ajuda de dona Gercina e se mudou para o local onde hoje mora sozinha na quadra 88, no Setor Universitário.Assim como ela, diversas outras famílias também ocuparam esse mesmo espaço que, atualmente, é alvo de disputa judicial. A quadra 88 pertence à Universidade Federal de Goiás (UFG), concedida pela União em 1961. O POPULAR conseguiu, com exclusividade, a informação de que o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região determinou, no dia 9 deste mês, que as 53 famílias que moram no espaço deverão sair e que não terão direito a indenização.“A universidade teve várias décadas para reivindicar a área, mas ficou inerte em relação ao crescimento do local. As famílias se instalaram e investiram tudo que tinham na área. A nossa advogada disse que, sem ajuda política, estaremos fora daqui até o final do ano e perderemos tudo”, relatou a tesoureira da Associação dos Moradores da Quadra 88 do Setor Universitário (Asmo 88), Roberta Carvalho Cruvinel.O processo, porém, é ainda mais longo. Começou em 1993, quando a UFG reclamou a área (quadro abaixo). Os moradores apelaram da decisão e conseguiram no ano passado o direito de serem indenizados pela desapropriação. Mas, em seguida, a UFG recorreu com embargos infringentes, quando há falta de unanimidade na decisão colegiada, e requereu um novo julgamento que, posteriormente, foi favorável à instituição.A reportagem entrou em contato com a universidade, que não quis se pronunciar sobre o assunto, sob o argumento de que não foi notificada oficialmente.Os moradores, por outro lado, pretendem recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). “Tentaremos o que tiver ao nosso alcance. Iremos ao Supremo, mas mesmo que eles aceitem nosso processo, isso não impede a execução, que é vir com o mandado e retirar as famílias. Vamos em busca de um efeito suspensivo dessa execução”, relatou Roberta Cruvinel.Área disputadaEnquanto o Centro da capital teve uma distribuição regular dos lotes, o outro lado do Córrego Botafogo, onde nasceu a Vila Operária, mais tarde setores Universitário e Vila Nova, cresceu sem uma divisão correta.Na quadra 88, em litígio, estão 53 lotes, além do Campus 3 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC–GO). As instalações da instituição privada ocupam grande parte do espaço e também estão ameaçadas pela Justiça.A PUC–GO também preferiu não se pronunciar sobre o assunto com o mesmo argumento da UFG. “Só nos pronunciaremos após a notificação oficial”.