Cerca de 150 estudantes participaram do protesto da Frente de Luta pelo Transporte, na noite de ontem, em Goiânia. Em ato marcado pelo forte aparato da Polícia Militar (PM), eles reivindicavam principalmente o retorno do Programa Ganha Tempo, suspenso no início de janeiro, que permitia fazer até trës viagens com o mesmo bilhete em duas horas e meia. Também pediam o passe livre estudantil e criticavam o serviço prestado pelas empresas de transporte coletivo.O protesto foi o segundo realizado pelo grupo em seis dias. Diferente do primeiro, que terminou em confronto entre a PM e os manifestantes, o evento de ontem foi pacífico, apesar da presença de militares em carros, motos, cavalaria e até uma unidade da Tropa de Choque. “Tem mais policial que manifestante”, brincavam os estudantes.Os manifestantes se reuniram por volta das 18 horas, no Lago das Rosas, no Setor Oeste. Na concentração, muitos passaram por revista da PM. “Manifestar pode. O que não pode é ter coquetel molotov e outros artefatos que danifiquem o patrimônio público”, justificou o capitão Sandro Cardoso Botelho, supervisor do policiamento da capital.Um dos revistados, o estudante Tiago Madureira, de 30 anos, reclamou: “Somos tratados como marginais. Mandaram a polícia nos reprimir no início da nossa manifestação, mas nada disso vai nos intimidar”.De lá, o grupo seguiu em passeata até o Terminal da Praça A, em Campinas. Os jovens seguravam faixas, tocavam tambores e, com o apoio de um carro de som, gritavam palavras de ordem como: “Se o Ganha Tempo não voltar, Goiânia vai parar” e “Passe livre já”.Durante o percurso, se revezavam ao microfone para criticar o projeto de lei antiterrorismo que pretende criminalizar a violência em protestos. Também atacaram a lei estadual 18.363, em vigor desde o mês passado em Goiás. Ela submete a realização de eventos em locais públicos à autorização da PM.A intenção dos integrantes da Frente de Luta era entrar na Praça A, mas a polícia não permitiu. Soldados da PM fecharam todas as entradas e os carros da corporação lotaram o pátio do terminal. “A gente queria entrar no terminal, dialogar com a população e pedir que se juntasse a gente. Fomos impedidos, mas acho que mesmo aqui do lado de fora alcançamos nosso objetivo”, afirma o estudante Victor Hugo Silva, de 20. Depois de dar duas voltas na Praça A, os manifestantes desceram a Avenida Anhanguera em direção ao Lago das Rosas, onde pararam em frente à Rádio Universitária.Funcionário público aposentado, o cadeirante Divino Roberto da Silva, de 51, acompanhou o percurso, com a ajuda da mulher. Apesar de ter carro, ele participava do protesto para apoiar a luta pela melhora no transporte público. “Fico feliz quando vejo os jovens em busca de um objetivo. No meu tempo de juventude, a gente não ia para a rua assim. Mas estou cansado de ver tantos desmandos na vida da população.”No cruzamento da Avenida Anhanguera com a Alameda das Rosas, alguns manifestantes batucavam tambores e pulavam. Outra parte preferiu sentar no meio da pista. O trânsito ficou fechado e os ônibus do Eixo Anhanguera tiveram de ser desviados.Depois de cerca de meia hora, um acordo firmado entre os advogados do movimento e o comando da PM garantiu a dispersão dos manifestants. A polícia liberou o embarque gratuito na plataforma do Eixo Anhanguera, desde que os participantes fizesem fila e entrassem em grupos de cinco pessoas. Cada grupo devia seguir para um lado diferente da linha leste-oeste, a fim de evitar novas concentrações. A PM também exigiu que os jovens retirassem as máscaras e os panos que cobriam os rostos. O embarque terminou por volta das 21h20.-Imagem (Image_1.474302)-Imagem (Image_1.474301)