“Aqui a gente ainda não tem nenhum espaço para lazer, nem quadras, nem praças, nem centro comunitário. Para pegar ônibus é preciso caminhar por 1,5 quilômetro em estrada de terra, que não tem nenhuma iluminação. São só as casas e pronto”. O relato, da jovem Rutielly Pereira Dourado, de 13 anos, moradora do Residencial Irisville, é o retrato de um dos problemas enfrentados pelas pessoas que vivem em conjuntos habitacionais da Prefeitura em Goiânia: a demora na entrega dos equipamentos sociais obrigatórios nesses locais. A falta de opções de lazer e áreas para a realização de atividades por jovens e crianças também é outra deficiência de muitos desses espaços, situação que está relacionada ao aumento do número de pessoas envolvidas com a criminalidade.O arquiteto e urbanista Renato de Melo Rocha, que há muito tempo faz estudos sobre conjuntos habitacionais, diz que não adianta apenas construir casas e mandar as pessoas para os conjuntos sem dar a elas condições para viver nesses locais. “Equipamentos públicos como praça, escola, posto de saúde, creche e centro comunitário são obrigatórios e essenciais nessas regiões. Em Goiânia geralmente eles são construídos, mas bem depois que as pessoas mudam para os conjuntos”, diz.Renato Rocha conta que em Curitiba (PR) os conjuntos habitacionais da prefeitura são entregues somente depois que as casas e todos os equipamentos são construídos. “É muito ruim mudar para um local na periferia da cidade e não ter acesso à infraestrutura básica como posto de saúde, escola e espaço de lazer”, observa. Em Goiânia foram entregues recentemente pela Secretaria Municipal de Habitação (SMHAB) quatro conjuntos habitacionais. Em 2011 diversas famílias se mudaram para o Residencial Jardins do Cerrado 7, que possui 1.808 moradias e para o Residencial Orlando de Moraes, com 474 casas. Neste ano, foram entregues o Residencial Irisville, com 391 residências, e o Residencial Bertim Belchior, com 553. Dos quatro, as famílias que estão morando no Residencial Irisville são as que mais sofrem com a falta de infraestrutura e ainda reclamam por terem de pagar taxa de condomínio. Segundo a doméstica Luzia Rosa Pereira, de 46 anos, mãe da jovem Rutielly, o trecho que é necessário atravessar para chegar à avenida onde passam os ônibus é muito escuro e, por isso, tudo deve ser feito durante o dia. “É perigoso. O próprio condomínio também é mal iluminado. Não temos comércio perto. Eles colocaram a gente aqui e disseram que o resto será feito depois e que vamos ter de pagar condomínio para os espaços de lazer serem construídos”, fala.Segurando sacolas e ajudando as filhas trigemêas a carregar as mochilas da escola, a diarista Cristiane da Silva Souza, de 34 anos, relata que não é fácil caminhar pelo 1,5 quilômetro de estrada de terra todos os dias para pegar o ônibus. “Nunca saio à noite porque é muito escuro. Acho que os ônibus poderiam chegar aqui, ajudaria muito”, diz. A diarista também reclama da falta de espaço para as crianças realizarem atividades. “Coloquei elas em uma escola de período integral. Ficar na rua nem pensar”, completa.Por ser um conjunto habitacional menor e por estar na margem urbana do município, os moradores do Residencial Iriville são atendidos por equipamentos sociais próximos ao residencial. Conforme Renato Rocha esta situação é permitida por lei, desde que o conjunto habitacional esteja dentro da margem urbana consolidada, próximo a um local onde os moradores tenham acesso ao transporte coletivo. “A escola e o posto de saúde não podem estar localizados longe do conjunto habitacional”, acrescenta Renato. Os moradores do Residencial Irisville disseram que quanto à isso não enfrentam problemas e que tanto as escolas quanto o posto de saúde estão próximos deles.De acordo com o secretário de habitação de Goiânia, Fernando Santana, o asfalto no acesso ao residencial e a iluminação pública serão colocados no início de maio. “Nossos projetos são feitos por etapas. A nossa prioridade é levar as pessoas, que muitas vezes viviam em locais péssimos, para casas dignas. Depois construímos o que falta, até porque os recursos não são liberados todos de uma vez”, alega.Em relação ao pagamento do condomínio pelos moradores, Fernando Santana explica que os residenciais Irisville e Bertim Belchior são considerados condomínios, que possuem portaria e segurança. “Os moradores quando assinaram o contrato para a compra da casa foram avisados sobre a taxa”, ressalta o secretário. O secretário reconhece a importância da construção de espaços de lazer e para a realização de atividades nos residenciais e que fará parcerias com o Serviço Social da Indústria (Sesi) para levar ações sociais a todos esses conjuntos habitacionais. Moradores do Residencial Jardins do Cerrado 7 reclamam que o posto de saúde do conjunto está pronto - o espaço começou a ser construído depois que as pessoas mudaram para o residencial - mas não está funcionando. Segundo o secretário de habitação Fernando Santana, o posto de saúde já está sendo equipado e será inaugurado em breve. CriminalidadeA falta de espaços para lazer e prática de atividades para os jovens nos conjuntos habitacionais contribui para o surgimento da criminalidade, explica o tenente-coronel Anésio Barbosa Júnior, chefe de comunicação social da Polícia Militar (PM). “Essas áreas possuem deficiências muito acentuadas, o que torna o ambiente mais propício à proliferação de más condutas por parte de muitos jovens que ficam ociosos por falta de opções”. A questão do uso de drogas é muito sério, segundo ele.De acordo com o tenente-coronel, a PM enfrenta dificuldades para conter o avanço das drogas na periferia, mas mesmo assim tem realizado nos conjuntos habitacionais ações ligadas à filosofia de polícia comunitária, com visitas para orientação dos moradores e reuniões comunitárias. -Imagem (Image_1.146063)