As mulheres estão declarando mais casos de violência doméstica. A constatação é da pesquisa DataSenado sobre violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil. Segundo o levantamento, feito por entrevistas telefônicas, o porcentual passou de 18%, em 2015, para 29%, em 2017. Os principais agressores foram maridos ou companheiros (em 39% dos casos) e ex-cônjuges (31%).O levantamento foi realizado em parceira com o Observatório da Mulher contra a Violência. A população considerada é a de mulheres com 16 anos ou mais. Todos os estados participaram e 1.116 mulheres foram entrevistadas.A desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) Sandra Regina Teodoro Reis avalia que as vítimas têm se conscientizado e reconhecem que os companheiros estão cometendo um crime contra elas. Além disso, a grande maioria conhece a lei Maria da Penha, de alguma maneira, mas não reconhece plenamente seus direitos.A mesma opinião é compartilhada pela presidente do Centro de Valorização à Mulher e da Casa Mãe Sozinha Anália Franco, Maria Cecília Machado do Vale. Entretanto, ela pontua que as vítimas têm o “pensamento machista de culpabilização”. “Elas compreendem a legislação, mas se culpam pelo que aconteceu, tentam justificar de alguma forma”, frisa. Inclusive, 69% das entrevistadas avaliou o Brasil como um País muito machista.O posicionamento de Maria Cecília ganha respaldo nos números, que apresentaram aumento na taxa de mulheres que disseram não terem procurado ajuda após terem sido agredidas. A taxa subiu de 21%, em 2015, para 27%, neste ano. A pesquisa aponta ainda que parte das entrevistadas alegou ter buscado apoio familiar (24%) ou recorrido à igreja (19%). A procura pelos órgãos de segurança, como delegacia comum ou especializada, aparece logo em seguida, com 17% e 16%, respectivamente.Para Bartira Macedo de Miranda Santos, professora da faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), este porcentual pode ser ainda maior devido às chamadas taxas negras, que são aqueles casos que não são levados às autoridades. Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Bartira diz que algumas mulheres fazem uma avaliação dos episódios antes de denunciarem os agressores. “Elas fazem a denúncia quando o caso é muito grave.” Poucas se deslocariam até uma delegacia em caso de ocorrências de ofensas moral, psicológica, por exemplo. Contudo, para a juíza Sandra, que é também presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar e Execução Penal, o número de denúncias tem aumentado com o decorrer dos anos, moldando uma nova realidade. A desembargadora lembra que, quando atuava como juíza, a taxa de denunciantes ainda era pequena. “Hoje está bem maior, sem dúvidas e vem crescendo mais”, ressalta.Para ela, entretanto, muitas vítimas não denunciam porque ainda têm medo do que pode acontecer com esse agressor ou porque dependem financeiramente daquele homem. “O lado financeiro pesa muito nessa questão. Elas se veem dependente, por isso precisamos trabalhar o empoderamento dessas mulheres”, reforça.